“Depois de resolvido o problema do novo aeroporto, Portugal tem de resolver o problema do monopólio da gestão dos aeroportos, entregues à ANA”, assinalou Michael O’Leary, CEO do grupo Ryanair, na conferência de imprensa realizada esta terça-feira, 23 de julho, em Lisboa.
Se no primeiro caso o responsável da companhia aérea lowcost admita que “a preferência estava em Montijo, já que era mais barato e mais rápido”, quanto à gestão dos aeroportos Michael O’Leary foi mais incisivo: “apelamos ao final do monopólio da ANA e à redução das taxas excessivas nos aeroportos portugueses, já que, a continuar assim, será muito difícil o turismo em Portugal crescer”.
As críticas à “decisão monopolista da ANA” em aumentar as taxas aeroportuárias em até 17%, em 2024, levou Michael O’Leary a considerá-la como “absurda”, uma vez que “forçou a Ryanair a fechar a sua base em Ponta Delgada e reduzir a sua base na Madeira em 50%” neste verão de 2024.
O responsável da Ryanair considera que estes aumentos de taxas são impostos numa altura em que a maioria dos aeroportos europeus estão a reduzir as mesmas, de forma a recuperar o tráfego pré-Covid e incentivar o crescimento do turismo e, por essa, via das economias dos países. “Estes aumentos das taxas aeroportuárias prejudicam o crescimento de Portugal, ao mesmo tempo que apenas enriquecem os bolsos do proprietário francês do monopólio, a ANA/VINCI”.
Os pedidos de O’Leary
A operar em seis aeroportos nacionais, com 27 aviões, o que equivale a 3 mil milhões de dólares de investimento, 172 rotas (15 das quais novas,) transportando 13,5 milhões de passageiros este ano e mais de 10.500 empregos criados, Michael O’Leary criticou os aumentos das taxas nos aeroportos onde opera a Ryanair: Lisboa (+17%); Faro (+12%); Porto (+11%); Ponta Delgada (+9%) e Funchal (+6%).
Revelando que ainda não foi possível reunir com o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, ou qualquer outro membro do Governo, embora a reunião esteja pedida, Michael O’Leary referiu que já enviou o plano de crescimento da companhia ao Executivo liderado por Luís Montenegro. Neste, a Ryanair pede o aumento da capacidade do terminal no Aeroporto Humberto Delgado (AHD) antes da construção do aeroporto de Alcochete; aumento da capacidade do AHD de 35 para 45 milhões de passageiros, em 2025, “uma vez que o novo aeroporto não ficará pronto antes de 2031 e o crescimento de Lisboa não pode esperar”; permitir que a Ryanair cresça com a concorrência das tarifas baixas; que as slots não utilizadas pela easyJet sejam redistribuídas; e avançar, rapidamente, com a venda/privatização da TAP Air Portugal.
De resto, o plano de crescimento da Ryanair 2030 apresenta um crescimento no número de passageiros, passando dos atuais 13,5 milhões para 27 milhões até 2030; uma duplicação das rotas, incluindo domésticas, para mais de 320; acrescentar 16 novas aeronaves a Portugal, equivalendo a um investimento de 1,6 mil milhões de dólares; reabrir a base de Ponta Delgada; aumentar o crescimento fora do período de ponta nos aeroportos regionais; reduzir a sazonalidade em Faro, Ponta Delgada e Funchal; e, finalmente, criar mais 500 novos empregos.
Os planos até 2030
Com um plano de aumento de frota que prevê atingir os 800 aviões em 2034, Michael O’Leary admite que “os atrasos da Boeing desafiam o cronograma de crescimento da companhia, em 2024”, dirigindo, igualmente, críticas ao controlo de tráfego aéreo na Europa, apontando o desempenho “insuficiente” da União Europeia (UE) no verão de 2024, representando menos 5% de voos, face a 2019.
O CEO da Ryanair frisou ainda que, no caso do controlo de tráfego aéreo, “milhares de voos estão a ser cancelados ou atrasados na UE por má gestão das autoridades competentes. As taxas aumentam, mas as falhas de funcionários e equipamentos também aumentam”, disse Michael O’Leary, considerando ainda que a União Europeia deve “proteger os sobrevoos durantes as greves nacionais em território da UE”.
Lisboa x 2
Voltando ao tema do aeroporto, uma coisa é clara para Michael O’Leary: “Lisboa precisará sempre de dois aeroportos, tal como todas as grandes cidades europeias. Será uma decisão inteligente”, admitindo que, “voaremos para os dois aeroportos, se estes existirem”.
No caso da TAP, a opinião é de que a venda se deve concretizar “o mais rapidamente possível. Até porque se não acontecer, o risco dos contribuintes portugueses terem de meter mais dinheiro na companhia aérea é grande”. Para O’Leary, a melhor opção de venda recai sobre o grupo IAG, admitindo que “não haverá perigo de transferência do hub de Lisboa para Madrid”.
Quanto ao investimento que a União Europeia está a realizar na ferrovia, nomeadamente, na Alta Velocidade, tanto Michael O’Leary como Eddie Wilson, CEO da Ryanair, não se mostram preocupados. “Claro que depende sempre das rotas, mas ninguém irá optar pelo comboio em viagens com mais de três ou quatro horas”, disse Eddie Wilson, concluindo O’Leary que “em viagens com duração inferior a duas horas ainda poderíamos ser impactados, mas nesses casos, não temos operação. Há lugar para a Alta Velocidade, mas em viagens mais longas, todos vão optar pela rapidez, até porque os preços na Alta Velocidade também não serão assim tão reduzidos”.