Sunday, December 22, 2024

Portugal Fashion é cancelado por falta de “apoios necessários”

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O Portugal Fashion (PF) foi cancelado por falta de financiamento, anunciou a organização nesta terça-feira. O evento de moda do Porto estava previsto para acontecer de 1 a 6 de Julho, mas “não foi possível, em tempo útil, reunir todos apoios necessários que permitiriam garantir a qualidade do evento”, lamenta a organização em comunicado. A decisão, acrescenta, é uma forma de “concentrarem” esforços no planeamento atempado do regresso do certame, que tem lidado com problemas financeiros desde 2022.

“Foi uma decisão muito difícil para a ANJE, que decide assim concentrar-se numa edição onde a nova estratégia possa ser apresentada com todas as condições para trazer a todos os criadores e à moda portuguesa a visibilidade, as oportunidades de negócio e a dignidade que ambicionam”, declara a organização do evento.

Em Abril, o PF, organizado pela Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), tinha anunciado que passaria a realizar apenas uma edição por ano e, agora, reitera a mesma intenção, ainda que sem uma data anunciada. “É sabido que o Portugal Fashion tem atravessado algumas dificuldades de financiamento e por isso foi necessário repensar a forma, e algum conteúdo”, reconhece a associação no mesmo comunicado, fazendo alusão a um estudo que foi desenvolvido para repensar a sustentabilidade financeira do projecto.

Quando foi anunciada a nova estratégia, o PÚBLICO pediu acesso ao relatório, mas a organização justificou que ainda não tinha disponíveis as conclusões finais. O novo formato do evento devia ser realizado com o apoio do Turismo de Portugal, para fazer face à ausência de fundos europeus que financiavam o PF desde a sua fundação em 1995.

A directora da semana da moda, Mónica Neto, antecipava que o reforço financeiro chegasse “em Setembro”, pelo que o evento de Julho teria de ser suportado com apoios e patrocínios. “Para esta edição inaugural, vamos ter um conjunto de experiências imersivas e de contacto com as indústrias criativas locais para quem nos visita, além de algumas inovações geográficas. Queremos mostrar Portugal além da passerelle”, descrevia, na altura, ao PÚBLICO.

Os planos não vão chegar a concretizar-se e, agora, a organização diz que “todos os criadores e meios de comunicação social serão atempadamente informados com os pormenores da próxima edição”. Deixa como salvaguarda que respeitará o calendário das semanas de moda internacionais para evitar “sobreposições de datas”.

As últimas edições do PF — entre Outubro de 2022 e Outubro de 2023 — foram financiadas por investimento privado e capital próprio da ANJE, bem como um apoio da Câmara Municipal do Porto, num orçamento de 450 mil euros em cada edição. Antes da crise, cada edição do PF, tinha um orçamento de 950 mil euros.

A ANJE já vinha anunciando que seria “insuportável” fazer mais uma edição sem os fundos comunitários. Aliás, o presidente da associação empresarial, Alexandre Meireles, dizia ao PÚBLICO que são necessários 1,5 milhões de euros dos novos fundos para fazer face às despesas das “edições de compromisso”, como lhes chamam.

Desde 2016 até 2022, enquanto esteve em vigor o quadro comunitário Portugal 2020, a ANJE recebeu cerca de 20 milhões de euros em fundos europeus. Nem todo o dinheiro foi usado no PF, certame que, de acordo com um estudo da Universidade Católica Portuguesa, antes da pandemia gerava dez milhões de euros em cada edição e criava 400 postos de trabalho.

Mais do que os desfiles, o PF é uma plataforma de comunicação para criadores como Alexandra Moura, Miguel Vieira, Pedro Pedro ou Susana Bettencourt. Ao longo dos últimos 29 anos, tem-se distinguido do evento-irmão, a ModaLisboa, pela vertente de internacionalização e já levou criadores a semanas da moda internacionais, de Paris a Milão ou Nova Iorque.

Resta saber se o objectivo do PF é esperar pelo novo quadro de fundos comunitários do Portugal 2030 ou alavancar novas fontes de financiamento, como um novo investimento no projecto Canex, que trouxe designers africanos ao Porto e era financiado pelo Afreximbank. O PÚBLICO contactou a organização, mas ainda não obteve resposta.

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