Traduzido por
Helena OSORIO
Publicado em
1 de outubro de 2024
Há um ano, Miuccia Prada terminou a Paris Fashion Week como a estilista mais aclamada da profissão, e encerrou esta temporada parecendo um tanto confusa.
Para não dizer que a coleção que apresentou na terça-feira não tinha roupas muito bonitas com uma suspeita de ousadia, apenas que todas pareciam com várias ideias recentes da Miu Miu. Significa muitos soutiens, soutiens desportivos, cuecas e mais cuecas a aparecer através de vários vestidos e tops entreabertos.
A estilista italiana também exibiu dirndls de couro envernizado na altura dos joelhos e saias largas, usadas com três cintos metálicos; e a combinar com meias até aos joelhos e uma T-shirt branca com o logotipo exclusivo. Mais uma dúzia de modelos masculinos e femininos neste desfile misto. As blusas eram inevitavelmente abertas nas costas e os vestidos complementados com muitos strass.
Combinou elementos de desportos ativos – desde anoraques com capuz até aos tornozelos e blusões de nylon para treinadores até uma série de casacos com debrum que pareciam familiares para aqueles de nós que viram os desfiles recentes de Willy Chavarria. Ahem.
Miuccia também empregou o seu antigo truque de incluir celebridades cool no seu elenco, muitas vezes levemente andróginas – Alexa Chung, Eliot Sumner, Hilary Swank e Willem Dafoe, os dois últimos exibindo sorrisos irónicos.
Mas no geral, o desfile não teve grande impacto e seguiu-se a um show da Prada em Milão, que careceu de um foco muito claro.
A Signora Prada tem vindo a apresentar instalações de arte nos desfiles da Miu Miu há algum tempo. Nesta temporada, foi ‘Salt Looks Like Sugar’, de Goshka Macuga, uma artista polaca radicada em Londres. Composto por duas telas gigantescas que projetam uma história leve sobre dois jornalistas investigadores – chamados Logos e Pathos – que têm uma desavença porque um deles está num caso. Ambos trabalham para um jornal intitulado ‘The Truthless Times’, de propriedade da Queer Labour Party. Cópias dele foram deixadas em cada assento. Nenhum deles tinha histórias adequadas, apenas manchetes e apresentações. Duas típicas: Researchers Report on Readers Reading ou Hot Air Releasing False Flairs.
Acima das cabeças do público: exemplares do jornal circulavam por uma pista sinuosa. Ironicamente, dado o número da Gen Z e de vendedores de influência na primeira fila, poucos dos quais se imagina tenham comprado um jornal nas últimas quatro semanas da temporada internacional de desfiles.
Uma nota em cada assento alertava: “No contexto da era pós-verdade, onde as fronteiras entre facto e ficção são cada vez mais confusas, compreender quem controla a narrativa relacionada aos acontecimentos torna-se ainda mais crítico”.
Direto ao ponto. Mas sugerir que os jornais – como esta instalação efetivamente faz – são de alguma forma ameaças à veracidade é, em última análise, enganoso. Como qualquer intelectual sério – que é certamente o que Miuccia é – deveria saber, a maior ameaça é a Big Tech incontrolada. Ao contrário dos jornais que são obrigados a manter-se bastante próximos da verdade graças às leis de difamação, não há nenhuma restrição real nas plataformas de redes sociais como X, TikTok ou Meta. E até ao dia em que estas plataformas não sejam obrigadas a seguir as mesmas regras que os velhos meios de comunicação, os novos meios de comunicação continuarão a ser a ameaça muito maior à honestidade no discurso público.
Uma pena, a Miu Miu não gastou um dinheirinho a explicar isso.
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