Publicado em
30 de nov. de 2023
Nos primeiros nove meses de 2023, as exportações do setor têxtil caíram 6% em valor (para 4.408 milhões de euros) e 12% em volume, face a igual período do ano anterior. A indústria portuguesa representa 3% dos têxteis mundiais e 7% a nível europeu. No caso de concorrentes como a Turquia e Ásia, numa quantidade de produtos, as quebras das compras irão para perto do dobro, ou seja, os clientes que compravam a seis meses, por exemplo, no Bangladesh, vão comprar em mercados mais próximos para reduzirem o tempo de compra e mitigarem o risco. Tudo isto anuncia um mau agoiro em relação ao primeiro trimestre de 2024.
Tendo em conta o inquérito recente, realizado pela ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, revelando que quase metade das empresas está a cortar no emprego e a maioria a perder vendas na reta final do ano, José Manuel Ferreira – presidente da Valérius, uma das principais empresas portuguesas da indústria têxtil, produtora de vestuário para grandes grupos internacionais, como a H&M ou Aeffe (Moschino) – lamenta ao ECO o momento “complicado” num setor que emprega 128 mil pessoas e que tem de manter o emprego.
“Se começamos a entrar em pânico e a dispensar pessoas, o têxtil pode colapsar”, reforça ainda José Manuel Ferreira, o empresário minhoto que pôs a Dielmar a dar lucro depois da falência.
“Os empresários estão habituados a viver em cenários adversos e a serem resilientes, mas a verdade é que os indicadores e a informação que temos não são bons. O setor fez investimentos, as empresas hoje estão muito bem equipadas, mas como não temos marcas próprias, não dominamos o mercado e estamos completamente dependentes do que acontece nas marcas globais e sujeitos a este ajustamento. Quanto mais empurramos o nosso cliente à compra, mais risco temos depois que ele não pague.”
“Os custos energéticos levaram a tesouraria das empresas, temos o perigo das taxas de juro e a retração da banca também é brutal. Havendo uma nuvem cinzenta no mercado, baixa o rating das empresas e os financiamentos. E as empresas têm os projetos que fizeram no Portugal 2020 e as linhas Covid para pagar, e a economia a encolher. A gestão tem de ser muito rigorosa e é quase navegar à vista. Por isso é que os fundos internacionais não têm empresas do setor têxtil.”
Neste âmbito mais recordamos que, na atualização feita em novembro do Programa de Recapitalização Estratégica do Banco Português de Fomento, é possível perceber que a Valérius responsável pela revitalização da Dielmar, já contratualizou a sua recapitalização de 9,9 milhões de euros (6,93 milhões do FdCR), assegura também o ECO.
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