Expectativa de descida de taxas de juro pelo BCE continua a fazer descer as taxas Euribor e as prestações do crédito à habitação. Mas nem tudo são boas notícias. Confira as simulações
A descida de taxas de juro por parte do Banco Central Europeu (BCE) na reunião da próxima quinta-feira deixou de ser uma hipótese e parece ser, agora, uma certeza. E empurrada por essa certeza, as taxas Euribor, que servem de indexante à larga maioria dos créditos à habitação em Portugal, voltaram a descer em maio. Esta descida, por sua vez, vai permitir uma diminuição na prestação a pagar ao banco para quem tem contratos a rever em junho.
As boas notícias em matéria de taxas de juro e do seu efeito no crédito à habitação ficam, no entanto, por aqui. Depois, apenas haverá notícias menos boas: as taxas de juro deverão continuar a descer, mas a descida será menor do que a esperada no início do ano.
Primeiro, as boas notícias
No início da semana passada, a presidente do BCE, Christine Lagarde, dava mostras de um enorme otimismo e, numa entrevista a uma televisão irlandesa, citada pela agência Reuters, dizia estar “muito confiante” de que o BCE tinha a “inflação sob controlo”, reforçando os sinais de que na reunião da próxima semana haverá uma primeira descida das taxas.
Este sentimento já se vinha a fazer sentir nos mercados, com a generalidade dos analistas a apontarem para junho como o momento do início dos cortes nas taxas de juro. Mas nunca como agora se tinha revelado uma posição tão unânime. Uma sondagem da Reuters, realizada em maio, dava conta disso mesmo: os 82 economistas consultados pela agência apostaram que se verificaria um corte de 0,25 pontos percentuais nas principais taxas de juro do BCE.
Para este otimismo não é alheio o facto de já parecerem longínquos os tempos em que a taxa de inflação na zona euro bateu o seu máximo histórico, quando em outubro de 2022 atingiu os 10,6%. Em março e abril de 2024 a taxa de inflação manteve-se inalterada nos 2,4% e a expectativa que existe é que, esta sexta-feira, quando forem conhecidos os dados de maio, o valor seja de 2,5%. Uma ligeira subida a que não é alheio o facto de há um ano, a taxa de inflação ter recuado de forma expressiva de 7% para 6,1%.
Agora, as notícias menos boas
E se o caminho que está a ser feito pela inflação parece deixar otimista a líder do BCE, já os dados dos salários na zona euro dão sinais em sentido contrário.
Os dados da evolução dos salários na zona euro no último trimestre do ano passado mostraram uma desaceleração, com a taxa de crescimento a recuar de 4,7% no terceiro trimestre, para 4,45% no quarto trimestre. Em fevereiro, Lagarde comentava estes dados e dizia que, apesar de encorajadores, não eram ainda suficientes, e apontava para as informações do primeiro trimestre de 2024 para retirar mais ilações. Ora, esses dados foram conhecidos na semana passada e, ao contrário dos anteriores, não parecem encorajadores no jargão do BCE: o crescimento voltou a acelerar de 4,45% para 4,69%.
“O BCE colocou recentemente muita ênfase na descida do crescimento dos salários como condição para a redução das taxas e a questão é saber até que ponto este aumento inesperado o irá assustar antes da reunião de junho”, explicava um analista citado pela Reuters.
Apesar das dúvidas, o corte de taxas em junho parece garantido. A questão é que se no início do ano os mercados financeiros apontavam para seis descidas de taxas até ao final de 2024, agora apontam para apenas duas. E só a líder do BCE, na conferência de imprensa que se segue à reunião de política monetária de dia 6 de junho, poderá dissipar as dúvidas que ainda existem.
Os economistas ouvidos pela Reuters parecem, apesar de tudo, mais otimistas que os mercados. Dos 82 economistas ouvidos pela agência, 55 esperam que o BCE, depois do corte de junho, corte as taxas de juro por mais duas vezes este ano. Mas dos 77 participantes comuns nos inquéritos deste mês e de abril, mais de um quarto, 20, prevê agora menos cortes nas taxas do que previa antes.
Prestação a pagar ao banco desce
Independentemente do que vier a decidir o BCE na próxima reunião e do que disser Christine Lagarde após essa mesma reunião, quem tem os seus contratos de crédito à habitação revistos em junho vai sentir uma diminuição da prestação a pagar ao banco, isto porque o valor médio das taxas Euribor em maio recuou novamente.
Para um empréstimo de 150 mil euros, indexado à Euribor 6 Meses – a mais utilizada atualmente em Portugal – com um spread (margem do banco) de 1% a diferença chega a ultrapassar os 23 euros: em dezembro pagava uma prestação ligeiramente superior a 800 euros por mês, em junho irá pagar um valor inferior a 780 euros.
Apesar da descida, se compararmos com a prestação que pagava há dois anos, quando o BCE começou a subir taxas, a diferença ainda é enorme: paga agora mais 300 euros do que pagava na altura, uma subida de quase 65%.
Veja as simulações:
Quanto aumentou e como vai evoluir em junho a prestação da casa
Empréstimo a 30 anos com spread de 1% || Euribor de maio apenas com dados até dia 29
EURIBOR 3 MESES
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EURIBOR 6 MESES
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EURIBOR 12 MESES
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