A 12.ª edição da Semana da Reabilitação Urbana do Porto abordou o tema da mobilidade elétrica nos condomínios e a gestão do risco de incêndio, onde especialistas discutiram os impactos e precauções necessários com o crescimento dos veículos elétricos em residências.
Na abertura da sessão, José Manuel Sousa, Vice-Presidente da Ordem dos Engenheiros Técnicos, expressou a necessidade de adaptações estruturais nos edifícios. «Temos preocupações no dimensionamento dos edifícios e na capacidade elétrica necessária para o carregamento dos veículos, tudo isso ligado ao risco de incêndio», afirmou.
Pedro Meixedo, Diretor do Laboratório Automóvel do ISEP, frisou que «os desafios da evolução tecnológica estão presentes em todas as atividades da nossa vida e a mobilidade elétrica é apenas um desses desafios». O responsável referiu que «não existe ainda legislação específica, os parques de estacionamento dos centros comerciais, condomínios e empresas confiam nos sistemas convencionais de proteção instalados, conforme o projeto de incêndio. O fogo de um veículo elétrico, nomeadamente do lítio, é muito forte e é difícil de controlar, de todo. Controla-se só para conter a dispersão. Os gases e a propagação a veículos próximos estão entre os principais perigos». O especialista reforçou a importância de adaptar os parques com sistemas de deteção de temperaturas anormais e extração de gases.
Por outro lado, Marcus Torres, Diretor Geral da ChargeGuru Portugal, abordou os riscos relativos aos veículos elétricos comparando-os com outros dispositivos: «Os elétricos não têm necessariamente mais riscos associados. Há outros equipamentos mais perigosos, incluindo trotinetes e itens domésticos». Apesar de reconhecer que há desafios, referiu que «há muitas notícias e vídeos de incêndios de carros elétricos, mas pode ser mais sensacionalista do que outra coisa. As principais causas de incêndios são colisão ou impacto, falha da bateria no fabrico, submersão do veículo ou uma fonte externa».
Mesa-redonda de debate
A mesa-redonda de debate sobre a mobilidade elétrica nos condomínios, que contou com a participação de Vítor Amaral, Presidente da APEGAC, Marcus Torres, Diretor Geral da ChargeGuru Portugal, Catarina Nunes, Sales Distributors | Specifiers Engineer da Schneider Electric, e José Cabeçadas Jesus, da Ordem dos Engenheiros Técnicos, abordou questões como a falta de infraestrutura em muitos edifícios, a dificuldade em implementar a legislação e as preocupações sobre a segurança e o risco de incêndios.
Vítor Amaral referiu que «o legislador legisla sem conhecer a realidade, e não só neste tema. Muitos edifícios não estão abrangidos pela atual lei, porque não têm as infraestruturas necessárias», afirmou, sublinhando que seria necessário revisar a infraestrutura elétrica dos edifícios existentes. Para o presidente da APEGAC, a solução passa por uma fiscalização mais apertada. «Deveríamos ter inspeção aos edifícios», acrescentou, referindo que a escassez de carregadores elétricos e a falta de conhecimento dos condóminos sobre os apoios disponíveis são questões graves. «O Fundo Ambiental sabe que há uma associação que lida com os administradores profissionais, mas não nos contactam para que possamos divulgar este apoio», lamentou.
Já Marcus Torres fez uma avaliação positiva do progresso na mobilidade elétrica. «Penso que a barreira da autonomia já foi ultrapassada», disse, destacando o avanço da tecnologia na área. No entanto, o Diretor da ChargeGuru alertou para a complexidade da instalação de carregadores. «Estamos numa fase em que o primeiro a fazer a instalação se safa, o terceiro talvez não, é complicado», disse.
“Podemos esperar uma simplificação da legislação”
Catarina Nunes trouxe à discussão a necessidade de simplificação da legislação para os carregadores. «Podemos esperar uma simplificação da legislação», afirmou, revelando ainda que a transparência dos custos de carregamento será um dos pontos de atenção. «Para carregadores até 50 kW, temos de ter um ponto de visualização do custo», explicou. A especialista disse também que a nova legislação prevê que as cobranças sejam feitas através de um sistema mais acessível, com a possibilidade de compararmos preços, como num parquímetro. «Vamos ter possibilidade de comparar preços», confirmou.
«O guia das instalações elétricas já saiu no ano passado e veio complementar o que já existia. Teve de se fazer uma avaliação, nomeadamente por parte dos condomínios, não havia esclarecimento quanto aos locais de estacionamento marcados no chão. Existem estes guias, bem documentados, de que forma se devem fazer as instalações», acrescentou Catarina Nunes.
José Cabeçadas Jesus trouxe para o debate a questão da segurança, alertando para os riscos associados ao uso dos carregadores elétricos. «Na legislação contra incêndios estamos a discutir várias situações, para termos nova legislação em breve», revelou. Para o responsável, é fundamental garantir a proteção dos equipamentos e dos quadros de distribuição elétrica. «Uma das principais preocupações é o facto de a temperatura do incêndio ser muito maior e uma das formas de combate é mesmo deixar arder», explicou.