Publicado em
31 de outubro de 2024
Nuno Gama acabou de apresentar a sua nova coleção intitulada “Fronteira” no recém-inaugurado MUDE – Museu do Design e da Moda, em Lisboa, na passada quarta-feira, 30 de outubro, onde enalteceu a cultura transmontana de Miranda do Douro, mormente a Capa de Honras e os Pauliteiros de Miranda a encenar a dança que começou por ser luta de paus. Este é também um território fronteiriço que preserva língua própria e fortes raízes, que dão ainda protagonismo a cultos, ritos e tradições onde o masculino fala mais alto. Daí o nome da coleção que leva a Cruz da Ordem de Cristo da nossa bandeira originária, também no ADN da marca do estilista que carrega desde sempre nos seus looks a emoção e a paixão de ser português.
Não houve desfile. Ineditamente, Nuno Gama apresentou uma exposição honrando o espaço museológico em si e levando os seus convidados a circular pela sala para observarem de perto cada detalhe da sua Fronteira que privilegia o handmade, as matérias-primas e o savoir-faire do Made in Portugal, o seu. Este é, realmente, um grande trabalho de alma e coração que seguirá para a Poland Fashion Week e Madrid Fashion Week, onde Nuno Gama representará Portugal como convidado de honra.
O evento culminou assim com a atuação dos Pauliteiros de Miranda do Grupo Folclórico Mirandês de Duas Igrejas, encantando com a riqueza e a beleza das terras de Miranda do Douro.
“Todos nascemos limitados por uma fronteira geográfica, autodeterminando uma outra individual, muito mais próximos do que imaginamos, do que na realidade somos”, explica numa nota de programa. “Estamos em plena revolução, de uma moderna mobilidade que se enraíza onde lhe bate o coração, que finalmente realiza a promessa da sua natureza, provocando toda uma extraordinária aculturação humana”.
“Justificamos motivos para ficar, no fascínio da diferença entre culturas, que nos tocam. E é nesse exercício que reencontramos aquilo que somos, pois é esse o alicerce de, para onde vamos. Sem saber ainda muito bem para onde vamos, vamos…como sempre fomos, como seres espirituais que somos, a viver esta maravilhosa experiência humana, em busca do equilíbrio, só que agora, munidos de uma nova consciência.”
Franjas, recortes, bordados, aplicações, incrustações, todas as técnicas ancestrais e ensinamentos se unem às formas contemporâneas de Nuno Gama, assim como os têxteis saídos de teares manuais, que vestem os homens com diferença. Em trajes que elegem a alta alfaiataria aberta à inovação e aos costumes de tantos povos, que se mesclaram com os seus saberes nesta fatia da Península Ibérica mais ocidental.
Os grandes óculos da coleção em destaque são totalmente feitos à mão, fugindo à distribuição massificada, e produzidos com desperdícios de tecido, entre outros materiais como tábuas de skate reutilizadas.
“Fronteira não é um precipício, geograficamente delimitado por regras, credos ou julgamentos, é o desafio de uma promessa, onde ajardinamos todos os nossos sonhos, onde desejamos que tudo seja mais perfeito, onde realmente sejamos melhores. Mais conscientes do individuo, do milagre da vida, em pleno respeito e equilíbrio de todos os seres vivos, sem os quais jamais cumpriremos o incrível prodígio da Natureza e se calhar, do Universo”, explica melhor o estilista-poeta, na nota chegada às redações.
“É neste exercício que mergulhamos nas profundas raízes Transmontanas, que nos chamam bem lá do interior da terra.”
“De onde também voamos para reaprender o que nos trazem os novos ventos, de onde esperamos bons casamentos, que vão ao encontro do lugar que desenhamos, onde não há fronteiras, estações, ou onde a sustentabilidade não justifique a função e a liberdade da inclusão não caminhe de mão dada com o respeito por todos os outros”, evoca Nuno Gama.
Mais explica que as formas e silhuetas da coleção Fronteira se harmonizam e/ou contrastam através de camadas e jogos de volumes, “entre a tradicional alfaiataria e a depuração da essência da mesma, pervertendo o desportivo / casual“, diretamente concebido para a vida moderna.
Na coleção é notório o “forte apelo à proteção das grandes lãs, em contraste com algodões de múltiplas gramagens / estruturas que se desmultiplicam em multifunções”, à imagem do que encontramos nestas terras altas e geladas dum quase fim do mundo para quem vive na capital portuguesa. Também “biodegradáveis, puros / naturais ou reciclados, reutilizáveis, ecológicos e com um surpreendente, imprescindível conforto, com que a atual tecnologia nos premeia, conscientes da certificação de futuro”, continua Nuno Gama.
“De onde vos escrevo, vejo alguns granitos animados pelo frescor verde menta. Descalço, enterro os pés na areia e sinto os castanhos terra a chamar por mim.” Não esqueçamos grandes poetas e escritores locais como Bento da Cruz, Guerra Junqueiro, Miguel Torga, Rentes de Carvalho ou Teixeira de Pascoaes, entre tantos.
Vale a pena revelar o sentimento do estilista traduzido em palavras que passa à roupa: “De quando em quando animados por coloridos que me recordam a autenticidade da sabedoria das nossas gentes e que estimulam a minha imaginação, representando beleza e energia, aguçando os sentidos estéticos da arte e da sabedoria do conhecimento. Desta vez, só não vejo o mar, mas já nem preciso porque faz tempo que o gravei em mim”.
De entre os convidados destacam-se Ana Rita Rocha, Maria José Galvão de Sousa e Humberto Leal, Hélder Afonso, Luís Pereira e Valentim Quaresma, para citar alguns dos privilegiados que assistiram à grande revelação do criador de Azeitão que desenha poesia para vestir.
Copyright © 2024 FashionNetwork.com. Todos os direitos reservados.