Na escola, lembra-se de dizer aos amigos “tudo menos têxtil”, mas acabou por não conseguir escapar à tradição familiar.
Licenciado em Gestão, agarrou a pequena unidade que o pai estava a equacionar encerrar, por volta de 2003, e criou a fabricante de têxteis-lar Be Stitch, em Guimarães.
Começou com sete máquinas de costura e meia dúzia de trabalhadores .
Ganhou sucesso com a participação em diversas feiras nacionais e internacionais do setor, tendo em 2019 surgido no topo das lista das 100 empresas com melhor timo de crescimento.
Em maio de 2022, ano em que adquiriu a têxtil vimaranense Bordalima, Rui Machado avançava, em entrevista ao Jornal T, que a Be Stitch faturava 33 milhões de euros, 100% nas exportações essencialmente para a Europa – com França a representar 30% do total -, assim como para mercados longínquos como Estados Unidos, Canadá ou Nova Zelândia.
E empregava cerca de 250 pessoas.
60 trabalhadores despedidos por carta no verão do ano passado
Mas eis que, um ano depois, em agosto do ano passado, 60 trabalhadores da Be Stitch eram informados, por carta, de que estavam despedidos.
Na missiva, a Be Stitch justificava que “a crise que neste momento atravessa o setor têxtil” atingiu a empresa, “afetando a sua tesouraria”, daí que a “diminuição da procura dos bens e serviços desta empresa obriga à redução dos seus custos operacionais”, pelo que iriam proceder à sua “reorganização e reestruturação”.
Alegando que “o mercado não permite prever uma recuperação que justifique a manutenção dos postos de trabalho em causa, cujo custo se torna demasiado oneroso em face dos resultados expectáveis”, a empresa “não tem, por isso, condições para continuar a laborar com todos os seus trabalhadores, não lhe restando outra alternativa senão promover o despedimento coletivo”, rematava.
Falha PER e entra em insolvência
Logo depois, em setembro, a Be Stitch tenta chegar a acordo com os seus credores, tendo aderido ao Processo Especial de Revitalização (PER), em sede do qual foi reconhecida uma dívida de 25,1 milhões de euros a um total de 210 credores.
Entre os maiores credores contam-se entidades estatais, como o IAPMEI (948 mil euros), a Segurança Social (823 mil euros) ou o Fisco (107 mil euros), bancos como o Novo Banco (2,8 milhões de euros), o BBVA (2,6 milhões de euros), o BCP (1,6 milhões de euros) ou o Crédito Agrícola (1,4 milhões), a Vipetrade – Comércio Internacional (4,3 milhões) e até a SAD do Vitória de Guimarães (55 mil euros).
Mas o plano de recuperação da empresa acabaria por não ser homologado pelo tribunal, colocando a Be Stitch na insolvência, que foi decretada em maio passado.
Leilão de uma fábrica por 940 mil euros e outra por 746 mil
A empresa seguiu, então, para liquidação.
Foram colocadas agora em leilão as duas unidades de produção de tinturaria e acabamentos, e de tecelagem e confeção/ logística (dois lotes únicos), assim como veículos ligeiros e pesados (vendidos lote a lote), com uma avaliação global dos ativos de 1,737 milhões de euros, avança a organizadora do evento, a leiloeira Leilosoc, em comunicado.
O primeiro lote é composto por uma unidade de produção afeta à área de tinturaria e acabamentos, localizada na freguesia de Lordelo, avaliada em 746.365 euros.
“Atualmente em laboração, esta unidade de produção possui um contrato de arrendamento com prazo de cinco anos (iniciado a 01/06/2016) e com renovações automáticas por períodos de um ano, pelo valor mensal de quatro mil euros”, informa a Leilosoc.
“O lote 1 é vendido sob a forma de lote único e inclui máquinas e equipamentos de apoio à indústria têxtil, outros equipamentos industriais, equipamentos de escritório, carregadores de veículos elétricos e mais de 2.230 painéis solares – que correspondem a 21% das necessidades energéticas da Be Stitch”, realça a mesma leiloeira.
Já a segunda fábrica, situada em Gondar, contempla o segmento de tecelagem e confeção/ logística e possui uma avaliação de 940.020 euros.
Esta unidade de produção está também em laboração, sendo que o contrato de arrendamento tem um prazo de três anos, iniciado a 1 de fevereiro de 2017, renovável por períodos sucessivos de um ano, pelo valor mensal de 6.776 euros.
Vendido sob a forma de lote único, inclui mais de 30 teares retos, máquinas e equipamentos de apoio à indústria têxtil, stock de matérias-primas, outros equipamentos industriais, equipamentos de escritório e carregadores de veículos elétricos, elenca a Leilosoc.
O leilão presencial dos ativos da Be Stitch – Indústria Têxtil está marcado para 25 de outubro, às 14h30, no Hotel de Guimarães.
Meia dúzia de dias antes, o Pevidém Sport Clube, que milita no Campeonato de Portugal e é presidido por Rui Machado, joga em casa com o Benfica na 3.ª eliminatório da Taça de Portugal.
“Quanto aos cães raivosos, ‘master-minds’ da gestão, aceito sugestões”
Em 5 de outubro do ano passado, quando ainda tentava negociar com os credores a viabilização da Be Stitch, Rui Machado recorreu à sua página pessoal do Facebook para explicar a situação da empresa e as razões que levaram ao despedimento inicial de 60 trabalhadores, num “post” que continua ativo e que reproduzimos agora na íntegra:
“De 2017 a 2021
Cerca de 150 milhões de euros de faturação sendo a quase totalidade para exportação.
Cerca de 1,7 milhões de resultados líquidos.
Média de 220 trabalhadores
Mais de 3,5 milhões de euros de contribuições para a Segurança Social.
O mesmo valor dos custos financeiros (juros e outras despesas bancárias).
Mais de um milhão de euros de IRC e tributações autónomas.
Cerca de 13 milhões de subcontratação (a tal mão-de-obra indireta sem contar com as compras de matérias-primas e subsidiárias).
Quase 6 milhões de investimento (com o tal apoio de 1,5 milhões, estando mais de 600.000 euros amortizados e tendo ‘arrebentado’ todos os critérios para ter direito a cerca de 600.000 a fundo perdido).
Salário médio em 2017 – 1380 euros.
Salário médio em 2021 – 1630 euros.
Sim. Na Têxtil.
Peso do salário da administração sobre o volume de negócios em 2021- 0,3%.
Resultados distribuídos no período em análise – 0.00€.
Chulo! Vigarista!!
Empresa criada em 2003 com capital social de 15.000 euros. Menos de 10 funcionários e uma dúzia de maquinas de costura.
O sócio-gerente da empresa vive onde vivia em 2001. Não herdou nem tem acesso a dinheiro ‘velho’ da família. Não tem qualquer bem imobiliário. Se alguém encontrar fortuna em contas bancárias ou outro tipo, favor informá-lo. Dava jeito.
Em 2022, aumentou o volume de negócios apesar da crise energética cujo aumento rondou os 100%.
Em 2023, quebra de procura na ordem dos 60% em relação ao período homólogo de 2022. Repito: 60%!!!! Obrigado Mãe Rússia e BCE.
Serviço da dívida a rondar os 100.000 euros por mês. Ainda bem que temos o Banco de Fomento e um PRR em curso.
Camaradas!!!! Uni-vos!!! Vamos todos exigir que ajudem a Be Stitch!!!!
Quanto aos cães raivosos, master-minds da gestão, aceito sugestões. Assumam o aval pessoal que dei a toda a dívida e o paraíso pode ser vosso.
A todos aqueles que perderam o emprego, um grande abraço solidário. Todos têm ou terão novos projetos rapidamente. Afinal, trabalharam na Be Stitch: levam selo de qualidade. Se dependesse de vós, estaríamos cotados na bolsa. Tudo farei para que voltem.
Disse.”