Thursday, November 14, 2024

“Desaconselho aqueles que vem para Portugal com visto de turista para esperar pela sua documentação” – Sónia Crisóstomo – Jornal Mundo Lusíada

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Por Ígor Lopes

 

O empreendedorismo feminino em Portugal tem registrado um crescimento significativo nos últimos anos, refletindo uma tendência global de aumento da participação das mulheres no mundo dos negócios. De acordo com estudos recentes, as mulheres representam cerca de 34% dos empreendedores nesse país europeu, com crescimento em áreas como a tecnologia e a inovação. Um avanço que é também impulsionado por iniciativas governamentais e privadas que incentivam a criação de startups lideradas por mulheres, além de uma crescente consciência sobre a igualdade de gênero no ambiente empresarial.

Para perceber melhor este cenário, conversamos com a empreendedora Sónia Crisóstomo, que integra o Clube de Mulheres Empreendedoras de Portugal e o Business Club do World Trade Center, em Lisboa, além de atuar em diferentes frentes empresariais, ligando, sobretudo, Portugal à América do Sul e ao resto da Europa. Esta responsável, que conta com experiência internacional, mencionou os desafios de se investir e empreender em Portugal, mas destacou também as oportunidades existentes. Sónia enumerou os benefícios de se ter empresas com “sotaque” feminino e defendeu serem necessários esforços para se promover um ambiente de trabalho feliz para o sucesso dos negócios e para uma vida pessoal mais serena.

No dia a dia, quais os principais desafios de uma empreendedora brasileira em Portugal?

Os desafios são inúmeros. Desde conseguir e compreender o visto correto para vir para Portugal. Este é o primeiro passo. Eu fortemente desaconselho aqueles que vem para Portugal com visto de turista para esperar pela sua documentação. Tudo é moroso, lento e burocrático como a maioria dos serviços públicos em todos os países. O segundo grande desafio é o aculturamento. Erra quem pensa que “somos irmãos e falamos a mesma língua, e está tudo certo”. A cultura europeia é diferente e falar o português do Brasil ajuda, mas pode nos colocar em situações constrangedoras. O terceiro grande desafio é a compreensão dos tributos. Cada local, cada tipo de serviço tem a sua tributação peculiar e a carga tributária pode inviabilizar o negócio se simplesmente o empresário quiser fazer um “copy+paste” do seu negócio do Brasil.

Que negócios almeja em Portugal?

Tenho algumas áreas diferentes de negócios que são executadas por mim e/ou com apoio de empresas locais parceiras em áreas específicas. A Ponte360, que lidero, desenvolve projetos nas áreas de missões empresariais, internacionalização de negócios, eventos/palestras de pequeno, médio e grande portes, e representações comerciais de empresas estrangeiras em Portugal. Outra atuação que mantenho é na área artística, cultural e pessoal. Sou escritora, artista com obras e livros lançados no Carrossel do Louvre, em Paris, e com as certificações que tenho e continuo a estudar, sou coach de well-being para empresários e lideranças que buscam estabelecer uma trilha de autoconhecimento com foco na felicidade e no bem-estar pessoal e nas suas organizações.

Acredita que empreender e investir em Portugal é hoje um risco ou uma oportunidade?

Tudo na vida é risco e oportunidade, não existe nada certo. O que vai determinar se os passos foram dados corretamente é o conhecimento de mercado, o conhecimento do próprio negócio, as boas conexões no ecossistema local e um “colchão” financeiro que permita o mínimo de maturidade no seu negócio até começar a florescer. Mas ninguém prevê uma pandemia, por exemplo.

Como avalia o atual mercado empresarial em Portugal, considerando as tendências e a concorrência?

Portugal está a crescer a olhos vistos. Apesar de que o português é um pouco “fadista”, digo isto de forma divertida e sem juízo de valor, o mercado é sim promissor. Portugal é um país vocacionado para as energias renováveis, à literacia, à boa mesa e incentiva o turismo pelos belos recursos naturais e cidades que podiam estar (e estão) em filmes de época, como Monsanto, que sediou alguns takes da Série “House of The Dragon”, ou mesmo Óbidos, uma cidadezinha medieval simpática que agita o mercado do imaginário. Portugal também abriga grandes hubs de negócios e incubadoras de startups movimentando o mercado da inovação. Portanto, é muito mais promissor e vejo a concorrência como algo saudável. A concorrência sempre nos desafia a sermos melhores.

Qual o papel da mulher nesse ramo?

Gosto de falar sobre o tema trazendo números. Em estudos da McKinsey, Credit Suisse Ressearch Institute, Deloite, S&P Global Market Inteligence e Harvard Business Review vemos que “empresas com mulheres em posições executivas seniores mostram um ROI superior em até 10% em comparação com empresas sem mulheres nesses cargos; empresas fundadas ou cofundadas por mulheres geram 78 centavos de dólar por cada dólar investido, em comparação com 31 centavos gerados por empresas fundadas por homens; organizações com maior diversidade de género na liderança são 21% mais propensas a obter lucratividade acima da média; startups fundadas por mulheres performam 63% melhor do que as fundadas por homens no que diz respeito ao crescimento de receita; empresas com maior diversidade de género têm 20% mais chances de serem vistas como inovadoras. Não sou adepta a levantar bandeiras de equidade, basta fazer o que tem que ser feito. Às vezes, com um pouquinho mais de coragem porque o desafio pode ser maior.

Que resultados espera alcançar?

Eu diria que esta é uma boa pergunta. Não posso dizer que já fiz tudo o que queria na vida, mas já alcancei todos, absolutamente todos, os resultados que planeei. Foi duro, sofri, chorei, achei que não era possível. Mas usei a constância e a persistência como conselheiras. Mudei de rota quando necessário. Agora, quero trabalhar para mostrar às pessoas que trabalho e inteligência emocional devem andar juntas. Se a pessoa ainda está “morrendo de trabalhar”, então ainda não aprendeu a trabalhar com inteligência.

A qualificação é importante neste meio?

Em qualquer meio. Uma frase que uso como mantra: “Ou passamos a dor de aprender ou passamos pela dor do arrependimento”. Quando disse há pouco que consegui tudo que o queria foi porque estudei para isso. E estudar não é só sentar no banco de uma faculdade, é aprender com erros e acertos de outros, é ouvir bons conselhos, é escolher um bom mentor.

A que entidades está conectada hoje em dia?

Estou ligada à entidades como Jethro – Diplomacia Civil Humanitária; Clube de Mulheres de Negócios em Língua Portuguesa; G100; Divine Academie Française des Arts, Letres et Culture de Paris; World Trade Center, em Lisboa; Clube Mulheres Empreendedoras de Portugal; entre outras.

Que trabalho desempenha no Clube de Mulheres Empreendedoras de Portugal?

Somos um grande grupo que cresce sob a liderança da Dra. Rijarda Aristóteles. O Clube é jovem, nasceu em 2020 e já está presente em quatro continentes com mulheres que falam a Língua Portuguesa, onde desenvolvemos o networking para negócios, palestras e cursos de conteúdo relevante para as empresárias. São feitas reuniões abertas com conteúdo e reuniões somente para as Embaixadoras. Eu apoio algumas das iniciativas da Dra. Rijarda, que é incansável no desenvolvimento das mulheres que querem empreender, participando de reuniões, contribuindo para apuração das métricas e partilhando conhecimento.

Por fim, quais os planos para o futuro?

Expandir os negócios, expandir a mante, continuar a realizar boas conexões, cultivar os meus valores inegociáveis de ética, me cercar de pessoas que falam o meu nome numa mesa cheia de oportunidades, cuidar do físico, mental e espiritual para estar bem para novos cargos que assumirei ainda este ano, como ser avó.

Quem é Sónia Crisóstomo?

Mulher, esposa, mãe de duas potências femininas. Uma eterna e feliz aprendiz. Posso ser encontrada nas redes sociais em: @soniacrisostomo; @ponte360; e https://ponte360.com

 

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