Traduzido por
Helena OSORIO
Publicado em
1 de outubro de 2024
Nenhuma novidade sobre um novo estilista na Chanel, mas sim uma coleção perfeita, que ganhou aplausos surpreendentemente amplos no final do último desfile da maison de moda e luxo no Grand Palais, na manhã de terça-feira, 1 de outubro.
O puro profissionalismo dos trajes, desenhados pelo estúdio de design interno, sugeria que quem dava as instruções claramente não era preguiçoso. Pelo segundo desfile consecutivo da Chanel, após a saída repentina de Virginie Viard em junho, ninguém finalmente saiu para se despedir.
O desfile também marcou o retorno da Chanel ao Palais Royal depois de vários anos, enquanto o famoso espaço de exposições do século XIX estava a ser restaurado para as Olimpíadas de Paris.
Em vez de um cenário elaborado, o público de 2.200 pessoas sentou-se em simples cadeiras dobráveis brancas. Tornando-se o maior desfile da Paris Fashion Week, que termina hoje. Sob a nave e o seu gigantesco verrière de vidro, uma gaiola totalmente branca de 20 metros de altura, por onde desfilou o elenco. Reza a lenda que Coco Chanel recebeu de presente uma gaiola de passarinho de uma das suas costureiras, anedota que mais tarde levou à criação de uma famosa campanha publicitária do perfume Coco em 1991, na qual Vanessa Paradis interpretava o canário Titì dentro dela.
Um elenco bastante diversificado e visivelmente mais inclusivo, certamente em termos de tamanho corporal, do que qualquer desfile da Chanel visto até hoje.
Além disso, o estúdio foi corajoso ao assumir muitos riscos, muitos dos quais bem executados. Começando pelos fatos Chanel com um novo casaco com gola Peter Pan, desde saias surpreendentes com aberturas laterais até hot pant. Havia até inclusive um bomber de lã bouclé que não deveria ter resultado, mas funcionou. Como muitos casacos, era enfeitado com penas brancas.
Os enormes fatinhos e blusões de couro de aviador mostraram-se bastante estereotipados, embora simbolizassem os aviadores dos loucos anos 20, quando Coco tornou a Chanel famosa em todo o mundo. Mas depois o desfile recuperou força na hora do cocktail, com uma longa série de criações veladas, misturas de boleros ou coletes bouclé encimados por capas de chiffon; ou vestidos-casacos bouclé sem mangas muito elegantes e com gola de penas de galo cortadas, que qualquer mulher adoraria usar. Além disso, a Chanel aproveitou a megatendência atual de looks noturnos semitransparentes, elaborando-os levemente em tons de sorvete, assim como a lingerie que se pode ver por baixo. Uma sensação de libertação e fuga da gaiola, que Coco teria gostado.
“As pessoas sempre me quiseram enjaular; gaiolas com almofadas cheias de promessas, gaiolas douradas, gaiolas que toquei enquanto desviava o olhar. Nunca quis outra senão aquela que eu mesma teria construído”, disse Gabrielle Chanel num bilhete deixado em cada cadeira, retirado do livro “Memoires de Coco” de Louise de Vilmorin.
Para ser honesto, não ficamos totalmente impressionados com algumas sweaters um tanto desajeitadas; vestidos de crochet feitos muito folgados; nem por cunhas com a ponta voltada para trás. Além do mais, ver Vanessa Paradis e uma gangue nervosa de lacaios a escoltá-la à pressa para a segunda fila depois de 20 looks pareceu muito ridículo. O retorno de Titì à jaula está atrasado.
Mas, mais uma vez, o desfile ganhou força, graças a uma série inteligente de trilogias, ou seja, três looks cortados do mesmo tecido. O melhor de tudo: uma estampa de cubo de gelo em preto e branco, vista em pequenos fatos, vestidos e cocktails.
Concluindo, a cantora Riley Keogh apareceu toda vestida de preto, com o microfone na mão, cantando When Doves Cry, e circulando pela gaiola antes de se prender cuidadosamente ao assento e se erguer no ar. Finalmente, o elenco formou um círculo ao redor dela.
Nos últimos dias, tem havido muita especulação no Instagram de vários jovens comentaristas de que a marca estava supostamente “em bloqueio de comunicação” devido ao anúncio iminente do novo estilista.
Mas quando questionado sobre os planos futuros da Chanel, o presidente de moda e acessórios da marca, Bruno Pavlovsky, respondeu com um sorriso: “Um dia de cada vez, hoje falamos deste desfile”.
Finalmente, a música clássica de Prince tocou quando o elenco saiu, antes que o espaço ficasse em silêncio. Nesse momento, houve uma enxurrada de aplausos, no que parecia ser uma expressão palpável de apoio à marca por parte de jornalistas, críticos e escritores franceses, juntamente com centenas de clientes abastados.
Seria difícil exagerar o quanto a Chanel, a joia da coroa do universo do luxo francês, representa e significa para um certo tipo de francês. E o facto de, sem um diretor criativo no comando, a maison ter conseguido produzir uma coleção profissional tão inteligente foi saudado com aplausos coletivos espontâneos.
Assim, todos os que saíam do desfile estavam com um humor exuberante, inclusive os donos da Chanel, os lendários e discretos Alain e Gérard Wertheimer. Quando questionado sobre a direção futura do design, Gérard respondeu: “Nada de novo”, antes de Alain acrescentar, “e tudo está a ir muito bem”.
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