Traduzido por
Helena OSORIO
Publicado em
1 de outubro de 2024
O último “desfile” de Hedi Slimane para a Celine consistiu num vídeo e, para apenas alguns convidados, a oportunidade de ver toda a gama de roupas expostas no showroom da marca francesa na Rue Racine. Esta acabou por ser uma das cinco melhores coleções vistas até agora na temporada parisiense de setembro 2024. Embora, como dizem, possa ser a última desenhada por Hedi para a maison.
Assim como a localização do vídeo, os quartos e parques do Château de Compiègne, a coleção revelou-se elegante, coesa e cool. A banda sonora, Nico and the Velvet Underground, também era linda, e assim como as roupas faziam referência aos anos 60. Embora, mais uma vez, tal como a música escolhida – Femme Fatale – o seu humor e moda parecessem atemporais.
Principalmente de corte slim, na silhueta esbelta típica de Hedi, aqui aparecem alguns alegres boleros em pele de cordeiro esmaltada; casacos de montaria clean em camurça, saias curtas e largas em lã; tops de contas divinos.
Estamos a falar da Entente Cordiale, a agitada década de 60 em Londres que se fundiu com a intelectualidade de St. Germain, numa coleção que teve como ponto de partida a releitura de La Chamade de Sagan, por Slimane.
E tudo muito elegante: desde cardigans bege de lantejoulas até casacos alongados com contas densamente costuradas, ou mesmo alguns vestidos de cocktail bordados em crochet muito cool e finalizados com flores metálicas, cortesia da Montex, o famoso fornecedor que faz parte do grupo de artesãos Par Affection, da Chanel.
E, o que se sabe! Um fato de tweed houndstooth absolutamente perfeito que a Mademoiselle Gabrielle Chanel certamente ficaria feliz em ostentar.
Apresentada em torno do vídeo de Hedi, com muitos closes da cantora Nico e da escritora Françoise Sagan, a coleção também incluiu uma secção de alta costura. Uma série de vestidos volumosos habilmente drapeados em seda preta e gorgorão nos quais o classismo francês dos anos 60 encontra um toque moderno. Não dizia alta costura nas suas etiquetas, mas era o que era.
Paris está repleta de rumores de que Slimane já deixou a Celine e não trabalha no estúdio de design da marca na Rue Vivienne há meses. Quando questionados sobre isso, os corteses relações públicas responderam diplomaticamente que quando Phoebe Philo deixou a marca em 2017, “descobrimos isso depois da imprensa”. Slimane continua a ser o preferido de muitos profissionais para conseguir o emprego mais cobiçado da atualidade no universo da moda: o de estilista da Chanel.
Então, e francamente, quer se veja isso como uma performance de despedida da Celine ou como um cartão de visita para um novo cargo, tem de ser dito. Foi uma apresentação quase perfeita.
Gabriela Hearst: deusas no antigo jardim de Karl
É bom ver Gabriela Hearst a voltar a ser Gabriela Hearst, focando-se no que faz de melhor: roupas reais que expressam a sua alegria de viver inata e amor por divindades dotadas de classe.
Após a pausa nas criações para a Chloé, a designer parece ter voltado completamente em sintonia com o seu trabalho. E em ressonância com a boa sorte. Depois da chuva de manhã, a água parou de cair logo durante o desfile, montado no jardim da antiga casa de Karl Lagerfeld, o Hotel Pozzo di Borgo, uma villa de pedra em St. Germain.
Havia muitos enfeites em toda a coleção e nada muito simples. Abrindo com Niamh, a deusa irlandesa dos mares, vista num vestido georgette transparente salpicado; seguida pela deusa Freyja, uma escolha vibrante de cocktail intrincado e tops de malha de couro. Autoritário, mas nunca muito etéreo, num desfile que também apresentou fantásticos looks em bouclé dourado inspirados na divindade amazónica Amaru, tecido também utilizado nos elegantes fatos masculinos deste desfile misto.
Tudo apoiado por uma fantástica performance ao vivo de indie country rock de Wesley Schultz dos Luminals, acompanhado pelos Felice Brothers.
Gabriela fez uma reverência com o entusiasmo de sempre, descendo a passerelle de madeira, virando-se para cumprimentar a banda e abraçando meia dúzia de amigos e familiares, com um último grande beijo para o marido. Parecia exultante, e depois desta coleção realmente deveria estar.
Zimmermann: não é exatamente a onda perfeita
Parecia que seria um grande show para a australiana Zimmermann das irmãs Nicky e Simone Zimmermann, marcado para o almoço de segunda-feira, já que quando se chegou o cenário curvo de 80 metros de comprimento no Palais de Tokyo estava a projetar um belo vídeo de surfistas a apanhar ondas.
Também parecia um desfile da Zimmermann, com todas as jovens damas mais elegantes e bem vestidas nos subúrbios do centro da cidade de Sydney, de Vaucluse a Paddington, e o ar cheio de senhoras a pronunciar as palavras “Paris” e “Fabulous” com vários ‘A’ enfáticos.
Mas quando a ação começou e o elenco apareceu, os surfistas desapareceram, substituídos por uma luz forte que não fazia justiça à coleção. E, pela primeira vez, Nicky Zimmerman tirou vários pontos do seu A Game.
Se certamente poderia aplaudi-la por assumir alguns riscos, nem todos os seus experimentos funcionaram. As suas inúmeras ideias de chiffon franzido, vestidos e xales amplamente transparentes são admiráveis e ideais para uma festa na piscina ou cocktail no terraço. Além disso, foi excelente o uso de rendas mormente de Guipure, presentes em minivestidos de tarde, blusas alongadas ou túnicas magníficas.
Também inventou algumas estampas fantásticas, mas estranhamente usou-as em gabardinas com fivelas excessivas ou em vestidos diáfanos com cauda, nos quais as modelos quase se afogaram. E muitas vezes a alfaiataria (parkas, gabardinas e casacos manchados) parecia complicada, o volume pesado.
Enquanto o surf punk animado ouvido no pré-show foi substituído pelo repetitivo garage rock, mais um passo em falso de uma designer que normalmente tem total controlo da sua agenda.
Parece que terá de esperar pela próxima boa onda, como tantos surfistas antes dela.
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