Wednesday, July 3, 2024

Casas para a classe média? “É o que faz falta em Portugal”

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A promotora imobiliária belga Thomas & Piron aterrou em Portugal em 2018 e tem quatro projetos residenciais em carteira, dois deles em parceria com a também belga Promiris: o Conde de Lima, em Lisboa, já concluído, e o Gaia Hills, em Gaia, que deve começar a ser construído este ano. Em entrevista ao idealista/news, David Carreira, Country Manager da Thomas & Piron Portugal, alerta, entre outras coisas, para a necessidade de aumentar a oferta de habitação no país para a classe média nacional. Foi com esse objetivo, de resto, que anunciou recentemente o megaprojeto imobiliário Clarissas, que terá 760 apartamentos às portas de Lisboa e sairá do papel após um investimento de cerca de 300 milhões de euros. 

“Estamos presentes em seis países, Bélgica, Luxemburgo, França, Suíça, Portugal e Marrocos, e o nosso ‘core business’ lá fora é a classe média. Ao virmos para Portugal começámos por fazer o primeiro projeto, o Conde de Lima, que é um pouco mais para a classe média-alta, para o segmento de luxo. Mas logo a seguir apercebemo-nos daquilo que fazia falta a Portugal, daí a aposta no Clarissas, que é essencialmente dirigido à classe média”, revela David Carreira ao idealista/news – a conversa aconteceu durante a edição de 2024 do Salão Imobiliário de Portugal (SIL), que se realizou no início de maio.

Quando questionado sobre novos investimentos e projetos imobiliários residenciais, o responsável fecha-se em copas, mas deixa um aviso: “Há outros projetos na calha, mas provavelmente não se tornarão efetivos até final do ano, mas durante o próximo ano”. Uma coisa é certa, a mira está apontada às áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. “Para já são estas zonas que estamos a equacionar”, conta.

 

Que balanço que faz da atividade da empresa em Portugal?

A Thomas & Piron chegou a Portugal em 2018. Começámos por adquirir um pequeno projeto [Conde de Lima] no centro de Lisboa com um parceiro também de origem belga [Promiris]. São 41 apartamentos. Foi difícil, acabámos a venda agora em 2024, foram seis anos para conseguirmos desenvolver 41 apartamentos. Tem tudo a ver com a lentidão da nossa burocracia nacional. Mas o balanço que fazemos é positivo. Neste momento já temos quatro projetos, um outro também em parceria com o mesmo investidor belga em Vila Nova de Gaia [Gaia Hills]. Temos um terceiro mais pequenino, de 30 apartamentos mais um espaço de coworking, em Matosinhos, que é o Docks de Matosinhos. E temos o nosso grande projeto, o Clarissas, que estamos a apresentar agora na feira [SIL 2024] e que esperamos iniciar as obras de urbanização no início do próximo ano.

Fale-nos um pouco sobre o projeto Gaia Hills.

Já temos as licenças todas. Estamos na fase final de escolha de empreiteiro para, se tudo correr bem, iniciarmos a construção durante o segundo semestre deste ano. 

O Clarissas é o projeto mais recente da Thomas & Piron em Portugal e também o maior da empresa no país…

São ao todo 12 lotes, 11 lotes de construção, e são 37 edifícios, num total que pode atingir 760 apartamentos, todos dirigidos essencialmente à classe média. Estamos na fase final de aprovação da unidade de execução para depois passarmos ao contrato de urbanização. Temos um Pedido de Informação Prévia (PIP) em apreciação para o loteamento, que deverá ser aprovado entre finais de junho, princípios de julho. Diria que em relação ao Clarissa está a correr muito bem. 

Fala-se muito na necessidade de aumentar a oferta de habitação em Portugal para a classe média. É um dos objetivos da empresa?

Estamos presentes em seis países, Bélgica, Luxemburgo, França, Suíça, Portugal e Marrocos, e o nosso ‘core business’ lá fora é a classe média. Ao virmos para Portugal começámos por fazer o primeiro projeto, o Conde de Lima, que é um pouco mais para a classe média-alta, para o segmento de luxo. Mas logo a seguir apercebemo-nos daquilo que fazia falta a Portugal, daí a aposta no Clarissas, que é essencialmente, volto a dizer, dirigido à classe média.

“Costuma dizer-se que o segredo é a alma do negócio. Há outros projetos na calha, sim, mas provavelmente não se tornarão efetivos até final do ano, mas durante o próximo ano. Em termos de zonas geográficas de investimento em Portugal estamos na Área Metropolitana de Lisboa e na Área Metropolitana do Porto. Para já são estas zonas que estamos a equacionar”

Quanto é que a Thomas & Piron já investiu em Portugal nestes quatro projetos?

O investimento global deverá rondar os 450 milhões de euros.

Há outros projetos na calha?

Costuma dizer-se que o segredo é a alma do negócio. Há outros projetos na calha, sim, mas provavelmente não se tornarão efetivos até final do ano, mas durante o próximo ano.

Em termos de zonas geográficas de investimento em Portugal estamos na Área Metropolitana de Lisboa e na Área Metropolitana do Porto. Para já são estas zonas que estamos a equacionar.

Muitos ‘players’ criticam a demora nos processos de licenciamentos em Portugal. O novo simplex urbanístico, já em vigor, é uma boa notícia?

A chegada do simplex é positiva, tem pontos positivos. Poderá eventualmente haver um ano de transição para que as coisas corram bem, mas tem muita coisa positiva. Não deixa de ser uma boa iniciativa e a entrada do novo Governo pode trazer coisas positivas também.

 

Os quatro projetos da Thomas & Piron têm tido muitos compradores portugueses?

No Conde de Lima temos, salvo erro, sete ou oito nacionalidades, não há um ‘target’ preciso de uma nacionalidade. Temos desde americanos, brasileiros, indianos… Nos outros projetos, o Clarissas, o Docks e o Gaia Hills, é essencialmente portugueses. O nosso foco será sobretudo o mercado nacional.

O nosso público-alvo, quer no Clarissas, quer nos projetos que temos em curso, quer nos futuros, é essencialmente a classe média portuguesa, é o público nacional.

A instabilidade política e legislativa existente em Portugal poderá de alguma forma tornar o país menos atrativo para os investidores? Como é visto este tema na Bélgica, por exemplo? Que feedback tem tido por parte da Thomas & Piron?

A Thomas & Piron tem 48 anos de história, portanto, há 48 anos que desenvolvemos projetos imobiliários. A média de um projeto imobiliário na Bélgica, por exemplo, não é muito diferente: entre adquirir o terreno e vendermos a última unidade, o’ timing’ não é muito diferente do nacional. Estamos habituados a este tipo de coisas e não desistimos facilmente por causa disso. Somos uma empresa resiliente, nesse sentido. Insistimos e, quando chegamos a um país, é para ficarmos e para não desistirmos tão facilmente.

“A média de um projeto imobiliário na Bélgica, por exemplo, não é muito diferente [da de Portugal]: entre adquirir o terreno e vendermos a última unidade, o’ timing’ não é muito diferente do nacional”

O porquê de entrar em Portugal em 2018? Era algo pensado há muito tempo?

Diria que foram as circunstâncias. Ou seja, nos quadros da Thomas & Piron temos portugueses, é o meu caso. Estamos presentes, como disse, no Luxemburgo, e a nossa grande força de trabalho no Luxemburgo é portuguesa. Foi um juntar de circunstâncias. Desafiámos o senhor Pyron a investir em Portugal e ele aceitou o desafio. Juntámo-nos à Promiris, na altura, para fazer estes dois primeiros projetos [Conde de Lima e Gaia Hills] e depois decidimos continuar o nosso caminho com a aquisição de dois novos projetos a solo [Docks e Clarissas], digamos assim. O que não quer dizer que não venhamos a adquirir outros projetos em conjunto com outros promotores. 

A empresa já enfrentou a pandemia e há, agora, outros desafios, como os conflitos na Europa, a alta inflação e as taxas de juro elevadas. Apesar deste contexto, a Thomas & Piron continua a estar ativa no mercado…

Os dois últimos projetos que adquirimos foram em 2022, estávamos a sair da pandemia. Durante a pandemia não investimos. Também não nos retraímos, continuámos a desenvolver os projetos que tínhamos cá e lá fora. Depois, em 2022, adquirimos o Clarissas e o Docks Matosinhos, eram projetos que estávamos a trabalhar neles há algum tempo. É óbvio que houve alguma retração, mas é como digo, em 48 anos já passámos por algumas crises. Não sei se posso utilizar o termo, mas temos arcaboiço para isso.

“A Thomas & Piron está de pedra e cal em Portugal. Não somos um player que venha cá fazer um projeto, um ‘one shot’, e vá embora. Estamos cá para ficar”

Está no horizonte da empresa investir noutros mercados, como por exemplo em Espanha?

Tanto quanto sei não. Estamos na Bélgica, que é originalmente o nosso grande mercado, Luxemburgo, França, Suíça, Portugal e Marrocos.

Conclui-se, então, que a empresa está de pedra e cal em Portugal?

A Thomas & Piron está de pedra e cal em Portugal. Não somos um player que venha cá fazer um projeto, um ‘one shot’, e vá embora. Estamos cá para ficar.

A empresa teve pela primeira vez um stand próprio no SIL, certo?

Sim. No ano passado estivemos cá, mas no stand da Câmara Municipal de Loures, precisamente a falar dos projetos que já tínhamos em curso e a começar a apresentar o projeto Clarissas, que na altura tinha outro nome. 

 

Voltando à estratégia da Thomas & Piron em Portugal, passa mais por investir nas periferias de Lisboa e Porto?

Passa por investir nas áreas metropolitanas, ou seja, não só no concelho de Lisboa ou do Porto. Na área Metropolitana do Porto estamos em Gaia e Matosinhos, não temos nada no Porto, não se proporcionou. Em Lisboa fizemos um primeiro projeto [no concelho], mas neste momento estamos no concelho de Loures, e estamos a estudar projetos no concelho de Oeiras, por exemplo, mas estamos a abarcar a periferia. Quando falo nas áreas metropolitanas é efetivamente a área metropolitana no seu todo.

Outro dos temas que tem sido muito solicitado pelos vários players do setor está relacionado com a descida do IVA na construção, de 23% para 6%, uma medida que está prevista no plano do Governo “Construir Portugal”. Seria crucial para aumentar a oferta de habitação em Portugal?

É preciso que muita gente tenha consciência de uma coisa: não sei se ela existe, e isto tem sido dito e redito, mas às vezes não há essa consciência. No valor final de compra de um apartamento, entre 35% a 40% vai para o Estado. O facto de se baixar o IVA da construção de 23% para 6% vai reduzir essa fatia dos 40% e, portanto, vai nivelar o preço, vai ser positivo na questão da revisão dos preços. Mas é como se costuma dizer: é ver para crer.

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