Análise
A análise de João Duque, comentador da SIC, ao projeto do novo aeroporto em Alcochete, anunciado esta terça-feira pelo Governo.
A ANA Aeroportos garante que está disponível para trabalhar de imediato na decisão do Governo. A empresa apoia a opção de avançar com um aeroporto em Alcochete e de aumentar a capacidade da Portela até à entrada em funcionamento da nova infraestrutura, refere ainda que quer trabalhar com o Governo para benefício do turismo e da economia no país. João Duque não acredita que “a ANA queira sair de Portugal no final da concessão do Aeroporto Humberto Delgado”, como está previsto no projeto anunciado pelo Governo.
“A ANA está interessada naturalmente em continuar ligada à exploração do aeroporto e, portanto, aqui houve aqui um braço de ferro que agora, em vez de braço de ferro, vai ser um braço dos dois lados, porque não acredito que a ANA queira desperdiçar a hipótese de ter a possibilidade de continuar a operar o maior aeroporto de Portugal”, diz o comentador da SIC.
“Impacto pode ser notado” na compra da TAP
Sobre a possibilidade de a solução anunciada esta terça-feira pelo Governo poder de alguma forma condicionar a compra da TAP, João Duque assume que essa é a maior dúvida que tem em relação a este projeto.
“A operação da TAP em conjugação com um outro player pode estar dependente das localizações dos chamados UBS, dos pontos onde nós podemos multiplicar os voos e os voos de longa distância para outros voos (…) Acredito que este anúncio com esta decisão venha a alterar um bocadinho aquilo que é o aparente interesse dos players que podem comprar a TAP, mas pode perder-se o interesse de um, ganhando-se de outro. De um modo geral, acho que há aqui um impacto que pode ser notado”, considera o comentador da SIC.
Alcochete é a solução que serve ao país?
Para o economista, o projeto de Alcochete tem uma grande vantagem que é a expansibilidade.
“É um projeto que começa com uma pista, mas pode chegar a quatro pistas e, portanto, tem uma capacidade de crescimento, não impondo a descentralização e a divisão de operações entre dois aeroportos e isso é uma coisa importante para uma companhia, como por exemplo, a TAP, que vai ser uma companhia fundamental que não tem a dimensão dos grandes operadores internacionais”, refere
João Duque admite que esta exata localização possa não ser a melhor, mas que esta zona de Alcochete seria a mais óbvia pelas capacidades de expansão: “As pessoas não imaginam o valor que tem. Podemos tomar uma decisão que não é irremediável, o que não leva à construção de uma outra outra hipótese mais tarde, como era a hipótese do Montijo”.
Prazos de construção
Quanto ao cumprimento dos prazos de construção do projeto, que o próprio ministro das Infraestruturas admitiu ser “a maior dificuldade”, João Duque mostra-se otimista e destaca a hipótese de se optar por um empreendimento faseado.
“Nós já fizemos coisas e cumprimos rigorosamente os prazos e estou a falar em construções e grandes construções (…) Nós se nos comprometemos com uma meta, tipicamente fazemo-lo e, portanto, temos uma meta para um grande projeto nacional. É algo que pode agregar, unir e elevar as expectativas”.
“Presumo que a primeira pista pode abrir antes de estar o aeroporto na sua totalidade completo. Essa abertura de uma pista poderá não impor a abertura da terceira ponte. Depende se nós iniciarmos os projetos de lançamento da terceira ponte, eu penso que é fazível termos os dois projetos simultâneos, mas não tenho a certeza que seja obrigatória a abertura de uma terceira via no dia da abertura da primeira pista do aeroporto. Se a malha rodoviária for suficientemente boa para abarcar a hipótese de chegada a uma pista do aeroporto, eu acho que é capaz de ser suficiente”.
O comentador da SIC lembra ainda que vivemos durante décadas com pistas com duas pistas na Portela e não havia um acesso ferroviário ao local. Considera, por isso, que o acesso rodoviário pode ser suficiente para a abertura de uma pista, sem que todo o projeto esteja concluído.