Esta semana, tive o privilégio de participar na “Atlantic Convergence,” um evento que mostrou quão pouco entendemos verdadeiramente sobre o imenso potencial de Portugal num mundo em rápida digitalização. A convite de um dos organizadores do evento, o CEO da DE-CIX, Ivo Ivanov, passei dois dias cercado por líderes visionários da indústria de conectividade digital. O evento focou-se no futuro da inteligência artificial (IA), na necessidade de ligações globais mais fortes e na crescente procura de infraestruturas de armazenamento de dados, como o enorme centro de dados da StartCampus em Sines. Como soube, Portugal, particularmente Sines, está posicionado para se tornar um ator chave na era digital, com mais de 25% dos cabos submarinos do mundo ancorados e integrados na nossa infraestrutura de fibra ótica. E como descobri, isto é apenas o começo.
Um dos pontos altos foi ouvir Philippe Dumont, CEO da EllaLink, explicar como a sua empresa é pioneira no papel de Portugal na conectividade global. O cabo submarino de fibra ótica EllaLink reduziu a latência entre a Europa e a América Latina em 50%, aumentando significativamente a velocidade de comunicação. Esta conquista fortaleceu a soberania digital, enquanto fomentou a colaboração científica e empresarial. Também posicionou Portugal como um hub global estratégico, atraindo investimento e impulsionando a inovação tecnológica na Europa e no Brasil.
No evento, a crescente presença da Atlas Edge em Portugal foi outro tema de grande interesse. O CEO Tesh Durvasula enfatizou a estratégia de expansão da empresa, focando-se em Portugal como um ponto central para a entrega de serviços digitais mais próximos das comunidades. Ao aproximar a infraestrutura de computação de borda dos usuários finais, o Atlas Edge melhora o desempenho da rede e reduz a latência, aprimorando serviços em tempo real, como streaming, computação em nuvem e IA. A localização estratégica de Portugal torna-a um elo crítico nesta rede digital, e a Atlas Edge está a aproveitar cabos submarinos e centros de dados locais para expandir a sua capacidade e apoiar a transformação digital de Portugal.
Também achei fascinante que a Nokia, antes conhecida principalmente por seus telefones celulares, agora esteja liderando o desenvolvimento de redes de ponta para a era da IA. O seu contributo para o reconhecimento da NOS como “Rede Móvel Mais Rápida da Europa”, atribuído pela Ookla, demonstra a capacidade de Portugal para competir à escala global, abrindo caminho a novos avanços na infraestrutura digital.
Uma das principais conclusões do evento foi a demanda contínua por maior conectividade e data centers. Com o papel crescente dos dados em todos os aspetos da vida empresarial e pessoal, esses data centers não estão apenas se expandindo nas grandes cidades, mas também se aproximando das comunidades e empresas, garantindo serviços mais rápidos e eficientes. Os cabos submarinos que ligam Portugal ao mundo desempenham um papel fulcral neste crescimento, transformando o país num hub global de telecomunicações e infraestruturas de dados.
Atualmente, Portugal acolhe cerca de 20 cabos submarinos que ligam a Europa à América Latina, África e América do Norte. Esta extensa infraestrutura digital faz de Portugal um ponto de entrada crítico para as empresas globais, impulsionando o investimento em centros de dados e serviços digitais. As empresas globais estão a ver cada vez mais Portugal como um local ideal para a instalação de centros de dados, que suportam serviços na nuvem, desenvolvimento de IA e plataformas de streaming. Esta expansão está a criar empregos altamente qualificados e a acelerar o crescimento do setor tecnológico em Portugal. O impacto económico é substancial; só o setor dos centros de dados e da conectividade digital poderá contribuir com mais de 1 bilião de euros para o PIB de Portugal na próxima década em receitas diretas e indiretas.
Outro insight fascinante da “Convergência Atlântica” foi como Portugal está rapidamente a tornar-se um exportador de serviços digitais, com os cabos submarinos a desempenharem um papel crítico neste crescimento. A demanda por computação em nuvem, IA e serviços de streaming está impulsionando um crescimento anual de 10% nas exportações de serviços digitais. Até 2025, as atividades da economia digital, possibilitadas por cabos submarinos, deverão representar 7% do PIB de Portugal, cimentando ainda mais o papel do país como potência digital.
A localização geográfica estratégica de Portugal foi também um tema recorrente durante todo o evento. Tal como os exploradores da Era dos Descobrimentos, que ligaram continentes através do comércio e da exploração, Portugal está hoje a ligar o mundo através de dados e infraestruturas digitais. A sua posição torna-o uma porta de entrada natural para o tráfego de dados intercontinental, ligando a Europa a África, América do Norte e América Latina.
O evento também lançou luz sobre a crescente importância das energias renováveis no apoio a esta revolução digital. Portugal e Espanha estão na vanguarda das soluções de energia verde, que são fundamentais para alimentar os centros de dados que irão alimentar a economia digital. Um exemplo importante é o centro de dados StartCampus em Sines, que deverá tornar-se no maior centro de dados alimentado a energia renovável da Europa. Este projeto exemplifica a liderança de Portugal não só na conectividade digital, mas também na transformação sustentável da indústria.
Portugal está bem posicionado para liderar a revolução digital global, servindo como um hub de interconexão complementar para fluxos internacionais de dados. No início de 2024, Portugal tinha 33 data centers, incluindo um dos maiores do mundo localizado na Covilhã. Além disso, Portugal é o lar de um centro de dados único, 100% alimentado por energia renovável em Sines. Espera-se que a vasta rede de cabos submarinos do país se expanda dos atuais cerca de 20 para 116 até 2026, conectando 60 países nos cinco continentes. Esta extensa infraestrutura, combinada com fortes ligações terrestres ao resto da Europa, faz de Portugal um hub global crítico para o tráfego de dados.
Esses cabos submarinos oferecem mais do que apenas conectividade, eles também trazem imenso valor econômico. Ao melhorar a latência para mercados-chave como o Brasil e os EUA, aumentam a eficiência dos serviços digitais, impulsionando a competitividade de Portugal em setores como finanças, tecnologia e telecomunicações. Empresas como a Google, Microsoft e Amazon estão a investir fortemente em Portugal, destacando ainda mais a crescente importância do país no panorama digital global.
Olhando para o futuro, a expansão planeada dos cabos submarinos até 2026 terá um impacto económico significativo. A infraestrutura digital de Portugal deverá atrair entre 1,5 e 2 mil milhões de euros em investimentos diretos. As receitas dos centros de dados poderão ascender a 1 bilião de euros por ano, impulsionadas pela melhoria da conectividade e dos serviços oferecidos a empresas internacionais. Prevê-se que as exportações digitais cresçam entre 8% e 12% ao ano, potencialmente adicionando €3 a €4 mil milhões ao PIB de Portugal. Até 2026, o setor da conectividade digital poderá representar até 6% do PIB de Portugal, contribuindo anualmente com 12 mil milhões de euros para a economia nacional.
Em resumo, a “Convergência Atlântica” abriu-me os olhos para o potencial transformador do futuro digital de Portugal. A expansão dos cabos submarinos e das infraestruturas digitais irá impulsionar significativamente a economia portuguesa, podendo somar 12 mil milhões de euros anuais ao seu PIB até 2026. Este crescimento solidificará a posição de Portugal como um hub global de conectividade digital e inovação, com impactos diretos na criação de emprego, investimentos estrangeiros e exportações de serviços digitais. Pelo que testemunhei, Portugal não só está pronto para abraçar este futuro como já o está a moldar.
Paulo Lopes is a multi-talent Portuguese citizen who made his Master of Economics in Switzerland and studied law at Lusófona in Lisbon – CEO of Casaiberia in Lisbon and Algarve.
Paulo Lopes