O conceito de “pulseirinha”, anteriormente conotado genericamente com destinos banhados pelo Índico ou o Pacífico – e, claro, o norte do Brasil – são agora cada vez mais uma aposta das cadeias hoteleiras internacionais. A Europa sempre fez um uso moderado dos pacotes de ‘tudo incluído’, mas essa tendência tem-se alterado significativamente nos últimos anos, com os consumidores a alterarem também os seus destinos preferidos de viagem.
Em Portugal esta tendência também tem aumentado – sobretudo em destinos como o Algarve e a Madeira, onde sempre foi notada – sobretudo no segmento de luxo. O resort Dreams Madeira, da Hyatt, é uma das mais recentes novidades a ocupar aquele arquipélago, abrindo a sua primeira unidade All Inclusive na ilha. Atualmente em soft opening, oferece reduções de 40% sobre as tarifas que, em junho do próximo ano se fixarão em cerca de €1800 por semana, para um casal – ainda assim, um preço mais baixo do que se tem pagado para arrendar, pelo mesmo número de noites, uma casa no Algarve, no verão.
Também recentemente abriu portas, a Sul, o Viceroy Ombria, em Loulé. Aqui, as noites começam nos €700 – com pequeno-almoço incluído – por quarto duplo. Em época baixa, poderá conseguir-se uma diária por €250, consoante a ocupação. O resort, que abriu portas há apenas umas semanas, já fez saber que tem como objetivo competir com o Six Senses Douro Valley.
Lá em cima, no hotel sediado em Samodães, uma noite já custa, em média, mais de €1000 euros, e o valor deverá continuar a subir. Pelo menos, é essa a intenção do diretor da unidade, André Buldini, que no ano passado em entrevista à EXAME esclareceu que estava de mira apontada ao mercado norte-americano, onde o dinheiro não é um problema.
No mesmo sentido, há uns meses o grupo BOA anunciou também a criação de um novo resort de luxo na Quinta da Barroca, em Armamar. Quando falaram à EXAME, os responsáveis do grupo BOA não referiram preços – o resort só tem abertura prevista para 2027 – mas avisaram que também estarão a competir com o Six Senses.
Na Madeira, para pegarmos novamente na ilha sobre a qual falámos no início deste texto, uma noite no Savoy Palace custa, em média, €400 para duas pessoas, em junho. O valor vai subindo à medida que o verão aquece, o que significa que um casal que queira passar uma semana na “Pérola do Atlântico” pode pagar €2000 só pelo alojamento e pequeno-almoço.
Em declarações recentes ao Financial Times, o presidente do Hyatt para a Europa, África e Médio Oriente referia que o grupo tem “em pipeline uma série vibrante de resorts, com inaugurações muito esperadas planeadas para os próximos anos”. Javier Águila referiu ainda a abertura prevista de uma unidade nas Canárias, e o reforço da presença em mercados como Espanha, Grécia e Bulgária.
Depois de ter adquirido, em 2021, o Apple Leisure Group, o Hyatt tornou-se no operador turístico com maior portefólio mundial de resorts ‘tudo incluído’ no segmento de luxo, com as propriedades mais ostentosas a situarem-se nos EUA.
A cadeia Marriott também te reforçado a sua oferta, numa altura em que cada vez mais consumidores parecem procurar um tipo de viagem cada vez mais exclusivo – e caro – o que torna este tipo de unidades muito lucrativa.
Nos últimos anos, Portugal tem sido palco óbvio desta tendência, com o crescimento de marcas como as já referidas, mas também com o reposicionamento de outras que, à boleia do aumento dos preços médios, vão oferecendo [ou tentando oferecer] cada vez serviços mais exclusivos. E subindo preço, também.
É o caso do The Elegant Group, dono dos hotéis Martinhal, vocacionados sobretudo para famílias e que continuam a conquistar a preferência dos viajantes na Europa; do grupo Valverde, que conseguiu que duas das suas unidades pertencessem à exclusiva rede Relais&Chateaux, sendo uma delas em Lisboa e a única a ostentar este selo de excelência.
Mas até no segmento dos hotéis de 3 e 4 estrelas se tem verificado um aumento consistente do preço médio por noite. O Diário Notícias dava conta, há uns dias, de que nunca foi tão caro ser turista em Portugal, com os dados do INE a dar conta de que o valor médio por noite já tinha ultrapassado os €200 nas unidades hoteleiras. Dados da Associação da Hotelaria de Portugal, relativos ao verão – e constantes no inquérito “Balanço verão 2024” – já davam conta de que os preços médios por quarto e por noite tinham chegado aos €174 na época estival.