Friday, November 22, 2024

Portugal tem um ambiente propício a IA, mas ainda faltam alguns degraus

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A Inteligência Artificial (IA) é uma das tecnologias que mais tem captado o interesse mediático nos últimos anos, com o grande ‘boom’ aos olhos do grande público a ter-se dado com o lançamento do ChatGPT da OpenAI no final de 2022.

 

Desde então, temos assistido a uma autêntica ‘corrida’ das grandes tecnológicas a esta tecnologia, procurando assegurar investidores, acionistas, parceiros e também os clientes de que estão na vanguarda do desenvolvimento desta tecnologia. O caminho até ao futuro, no entanto, não será fácil e há ainda diversas questões em torno de uma das tecnologias mais fascinantes do nosso tempo.

O facto de, atualmente, o desenvolvimento de IA não se traduzir num aumento imediato de receita das empresas, por exemplo, continua a ser visto com preocupação por muitos especialistas. Paralelamente, a integração da IA nos diferentes processos e áreas de trabalho continua a ser uma incógnita para muitos – independentemente do quão impressionante e promissora possa ser.

Foi para percebermos algumas destas questões que enviámos algumas questões ao vice-presidente de Engenharia para a área de IA e Data na Cegid, Pedro Vale. Além de explicar o que se está a fazer em Portugal na área da IA, o especialista aponta também qual das gigantes tecnológicas se encontra a fazer o trabalho mais interessante nesta área.

Culturalmente, somos uma sociedade avessa ao risco, o que é um fator de inibição para a criação de novas empresas

O que está a ser feito em Portugal no que diz respeito a Inteligência Artificial (IA)? O nosso país proporciona um ‘ambiente’ propício ao desenvolvimento desta tecnologia?

Diria que em Portugal há um ambiente propício ao desenvolvimento de IA, mas ainda faltam alguns degraus para chegarmos a um ambiente ideal. 

A nível académico, Portugal é, desde sempre, bastante ativo na investigação sobre esta tecnologia. Nas várias universidades técnicas do país, existem departamentos de IA com resultados comprovados tanto na academia, como a nível empresarial. O elevado nível de qualidade que carateriza as nossas universidades técnicas nesta e noutras áreas, reflete-se posteriormente numa força de trabalho bem formada e muito procurada no mercado exterior.

Naturalmente, isto faz com que muitas das grandes tecnológicas procurem Portugal para criar os seus centros de competências – tal como fez a Cegid – ou procurem os nossos recursos humanos altamente qualificados para integrar as suas equipas lá fora.

Temos também algumas startups e empresas na área de IA já com alguns anos de experiência no mercado, que se dedicam tanto ao desenvolvimento de produtos próprios, como trabalham para grandes empresas internacionais.

Por outro lado, o tamanho do nosso país é, historicamente, uma desvantagem, visto que condiciona tanto o número total de pessoas disponíveis e formadas, como o número e dimensão de oportunidades disponíveis no mercado interno. Culturalmente, também somos uma sociedade avessa ao risco, o que é um fator de inibição para a criação de novas empresas. 

Adicionalmente, não temos um grande ecossistema de investidores e de capital de risco, o que limita o acesso a financiamento de novos projetos. Torna-se, assim, mais fácil sair e procurar oportunidades noutro sítio. Mas as coisas vão-se alterando e aos poucos chegaremos lá. Atrair empresas internacionais para o nosso país é um passo importante no caminho para criar o ambiente ideal para se desenvolver.

Especificamente no campo da IA Generativa, existem, de facto, questões de custo e eficiência energética/sustentabilidade

Empresas como a Nvidia têm obtido lucros impressionantes nos últimos trimestres como resultado do interesse no desenvolvimento de IA. Apesar disso, ainda não é claro se a aposta nesta tecnologia resultará em serviços que sejam lucrativos (e sustentáveis) para as empresas. Porque é que isto acontece? Será que pode vir a considerar-se uma ‘aposta’ perdida?

Creio que não será uma aposta perdida. Em primeiro lugar, há diversas tecnologias subjacentes à IA e estas tecnologias evoluem constantemente. Especificamente no campo da IA Generativa, existem, de facto, questões de custo e eficiência energética/sustentabilidade.

Mas é possível que a tecnologia mude significativamente no espaço de um a dois anos. O próximo passo será, muito provavelmente, mais eficiente, uma vez que as novas arquiteturas, tanto de hardware como de software, irão potenciar isso.

O que temos vindo a observar é que, mesmo no último ano, a IA Generativa ficou significativamente mais barata.

Na minha opinião, é realista considerar que os cidadãos sairão beneficiados com a introdução da IA nos serviços públicos

A atual secretária de Estado dos Assuntos Fiscais notou recentemente que a IA poderia ser integrada nos processos da Autoridade Tributária e Aduaneira. Há vantagens na introdução desta tecnologia nos serviços públicos? É realista pensar que esta integração será feita com benefício para os cidadãos portugueses?

Sendo a IA uma tecnologia que permite aumentar a produtividade e a eficiência, acredito que sim, que existem várias vantagens em introduzir esta tecnologia na administração pública, uma vez que pode dar um grande contributo para que os processos desta área sejam mais céleres e eficientes. 

Na minha opinião, é realista considerar que os cidadãos sairão beneficiados com a introdução da IA nos serviços públicos, na medida em que uma administração pública mais célere, com menos erros de avaliação e com capacidade de analisar automaticamente e corretamente situações complexas (algo em que a IA é especialista), será certamente benéfico para os portugueses.

Qual é a empresa (a nível global) que, na opinião do Pedro Vale,  tem feito o trabalho mais interessante na área da IA? A OpenAI é, sem dúvida, a mais mediática, mas qual é a empresa a que devemos estar mais atentos?

A Meta. A área de IA deles, liderada pelo Yann LeCun, tem vindo a desenvolver um trabalho muito interessante, tanto na criação e disponibilização do Llama (LLM Open source, com capacidades equiparadas ao ChatGPT da OpenAI), como na investigação do que se segue aos Large Language Models, ou seja, que novas arquiteturas podem suportar modelos capazes de gerir cenários mais complexos e resolver problemas cada vez mais difíceis.

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