O Presidente da República Portuguesa terminou em Macau uma visita de seis dias à República Popular da China. Marcelo Rebelo de Sousa passou por várias instituições de matriz portuguesa e encontrou-se com o Chefe do Executivo da RAEM. Chui Sai On realçou a importância de Macau na cooperação entre os dois países
Texto Sandra Lobo Pimentel | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro
Foi a visita mais curta de sempre de um chefe de Estado de Portugal a Macau. Marcelo Rebelo de Sousa passou pela Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) no primeiro dia de Maio e ficou menos de 24 horas, encerrando uma visita de seis dias ao País, que começou em Pequim.
Na capital, o Presidente da República Portuguesa começou a visita com uma deslocação simbólica à Grande Muralha.
Reuniu-se com o primeiro-ministro, Li Keqiang, na residência oficial Diaoyutai, após a deposição de uma coroa de flores no Monumento aos Heróis do Povo, na Praça Tiananmen, e foi depois recebido pelo Presidente Xi Jinping, no Grande Palácio do Povo, numa cerimónia com honras militares.
Em Pequim, Marcelo Rebelo de Sousa participou na segunda edição do fórum “Faixa e Rota”, seguindo depois para Xangai, para um seminário económico luso-chinês e uma ida à Universidade de Estudos Internacionais, que tem um dos departamentos de língua portuguesa mais antigos da China.
Rumou depois à RAEM, última paragem na República Popular da China.
Em Macau, a agenda do Presidente da República Portuguesa foi intensa, com visitas à Santa Casa da Misericórdia, ao Centro Histórico de Macau e às Ruínas de São Paulo, à Escola Portuguesa, e ainda uma reunião com o Chefe do Executivo da RAEM, Chui Sai On, e uma recepção à comunidade portuguesa na residência consular.
Passeio gastronómico
Em Macau, o dia do Presidente da República Portuguesa começou na sede da Santa Casa da Misericórdia, instituição de matriz portuguesa, que celebra 450 anos de existência.
O chefe de Estado português destacou a permanência da Misericórdia, a única que perdura no continente asiático, e também o espírito fundador que representa, uma vez que a Santa Casa foi das primeiras instituições estabelecidas aquando da fundação de Macau.
Uma cerimónia presidida pelo Provedor da Santa Casa, António José de Freitas, que lembrou a história da instituição, que está ligada à presença da comunidade portuguesa nesta região do sul da China.
Marcelo Rebelo de Sousa seguiu para um passeio pelo Centro Histórico da cidade, com destino às Ruínas de São Paulo, que se veio a revelar um verdadeiro roteiro gastronómico.
Pelo caminho, visitou a igreja de São Domingos, e foi encontrando vários residentes que o cumprimentaram. Realçou o valor arquitectónico do centro, com vários edifícios classificados como património mundial da UNESCO, e foi provando várias iguarias típicas. Bebeu chá com comerciantes, provou os pastéis de nata que se vendem em Macau e outras comidas macaenses de influência portuguesa.
Na visita foi acompanhado pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura da RAEM, Alexis Tam. O Presidente português aproveitou para sublinhar a singularidade de Macau, muito devido à influência portuguesa na região.
Governo apoia EPM
Na Sede do Governo, seguiu-se o encontro do Chefe do Executivo, Chui Sai On, com o Presidente da República Portuguesa, no qual trocaram impressões sobre o reforço da cooperação entre Macau e Portugal. O desenvolvimento do ensino da língua portuguesa foi um dos aspectos falados, e Chui Sai On anunciou a Marcelo Rebelo de Sousa que o Governo irá colaborar activamente com o plano sugerido por Portugal sobre a futura expansão da Escola Portuguesa de Macau (EPM), que terá um segundo pólo na RAEM.
Foi reafirmado o apoio contínuo à EPM, e Chui Sai On referiu ainda que uma equipa de trabalho do Governo da RAEM, incluindo do departamento de planeamento, irá contactar a escola para discutir o futuro plano de expansão, sublinhando que esta será, não só uma forma de consolidar o desenvolvimento da cultura e da língua portuguesa, como também permitirá alcançar um consenso preliminar sobre o plano a seguir.
O Chefe do Executivo lembrou ainda que este ano é de celebração do vigésimo aniversário do estabelecimento da RAEM, e desde 1999 que a cooperação entre Macau e Portugal tem sido intensificada com a assinatura de mais acordos, em vários âmbitos.
Chui Sai On realçou que neste encontro, foi possível auscultar as opiniões do Presidente da República Portuguesa em relação a temas de interesse comum, e que a amizade e a história entre Macau e Portugal promovem o desenvolvimento da cidade, especialmente nos domínios da cultura, língua e educação de matriz portuguesa.
Já Marcelo Rebelo de Sousa, destacou a importância atribuída pelo Governo da RAEM ao desenvolvimento da cultura portuguesa e ao ensino da língua e agradeceu o apoio das autoridades à futura expansão da EPM, o que não só permitirá aumentar o número de estudantes, como também melhorar o nível de ensino na divulgação da cultura e da língua portuguesa junto de mais pessoas, sendo este um assunto muito importante para Portugal como também para os residentes de Macau.
O Presidente da República falou da obra e da importância da Escola Portuguesa, que também fez parte do itinerário da visita e, na ocasião, adiantou que a construção de um novo pólo vai arrancar ainda este ano.
“Uma grande escola merece um grande presente”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, perante centenas de alunos e professores, revelando que a escola “vai ser maior”.
Mais cedo, na residência consular, o Chefe de Estado português já o tinha anunciado, na recepção para algumas centenas de membros da comunidade portuguesa, colocando ênfase no estudo do Mandarim.
Com a presença de várias figuras de outras comunidades, foram condecorados pelo chefe de Estado português, o Provedor da Santa Casa da Misericórdia em Macau, António José de Freitas, e o ex-presidente do Instituto Politécnico de Macau, Lei Heong Iok.
O Presidente da República Portuguesa fez uma última paragem nas instalações do Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong e do Instituto Português do Oriente.
Nova visita em perspectiva
A visita de Marcelo Rebelo de Sousa terminou com um jantar oferecido pelo Governo da RAEM. No discurso proferido pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On, este destacou o papel especial de Macau no contexto das relações amistosas entre a República Popular da China e Portugal, e o grande valor que, desde sempre, o Governo da RAEM tem atribuído às suas próprias ligações com a República Portuguesa.
O Chefe do Executivo afirmou que Macau e Portugal mantêm contactos amigáveis e estreitos, bem como uma cooperação pragmática, designadamente nos esforços para transformar Macau num elo na cooperação e o intercâmbio também entre a China e os restantes países de língua portuguesa.
Foi igualmente lembrado o 40.º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre a República Popular da China e Portugal, considerando que as relações entre os dois países se encontram actualmente numa nova etapa histórica.
Chui Sai On adiantou também que a Comissão Mista Macau-Portugal, estabelecida no âmbito da criação de mecanismos de cooperação bilateral, tinha realizado até então um total de cinco reuniões, ao longo de oito anos, desde 2011. A sexta reunião da Comissão Mista, decorreu posteriormente, em meados de Maio, em Portugal, com a deslocação do Chefe do Executivo a Portugal.
Com o apoio do Governo Central, Macau está a projectar as suas próprias vantagens para construir a plataforma de serviços para a cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa, e aumentar continuamente a influência do Centro de Serviços Comerciais para as Pequenas e Médias Empresas da China e dos Países de Língua Portuguesa, e ainda do Centro de Convenções e Exposições para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa e do Centro de Distribuição dos Produtos Alimentares dos Países de Língua Portuguesa.
Chui Sai On manifestou ainda o seu agradecimento pelo apoio e participação do Presidente da República Portuguesa na iniciativa nacional “Faixa e Rota”, afirmando ter plena confiança de que Portugal se tornará no eixo europeu desse projecto.
Sobre a presença portuguesa em Macau, Chui Sai On sublinhou que o Executivo da RAEM vai continuar a respeitar a diversidade de culturas e costumes, a apoiar o desenvolvimento do ensino da língua portuguesa e a encorajar activamente o intercâmbio cultural entre a China e Portugal.
No discurso que fez, no jantar, o presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, agradeceu a hospitalidade do Governo da RAEM, dizendo que termina em Macau a sua visita de Estado à República Popular da China, descrevendo as relações de Portugal e Macau como antigas, intensas e promissoras.
Manifestou vontade de assistir a um desenvolvimento e aprofundamento da cooperação entre Portugal e Macau, em domínios como a língua portuguesa, o comércio, o investimento, o turismo, o ensino superior, a ciência e a tecnologia. Além disso, também reforçar a posição de Macau como plataforma essencial no relacionamento com os países de língua oficial portuguesa.
Marcelo Rebelo de Sousa afirmou ainda que a visita que fez a Macau é a prova inequívoca da amizade e da cooperação da República Portuguesa com Macau, enquanto Região Administrativa Especial da República Popular da China. O Presidente da República Portuguesa desejou igualmente que o futuro permita que a relação entre Portugal e Macau seja cada vez mais próxima.
Acompanhado por uma delegação que integrou elementos do Governo de Portugal e de vários partidos com assento na Assembleia da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa deixou a porta aberta a uma nova visita a Macau, para breve, tendo em conta a celebração dos 20 anos do estabelecimento da RAEM, na qual o estado português estará representado ao mais alto nível.