Saturday, November 23, 2024

Portugal na Little Istambul: “Isto para nós é um jogo em casa, mas a motivação não chega para ganhar um jogo”

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Chove torrencialmente e o Signal Iduna Park, icónica casa do Borussia Dortmund, parece ainda mais imponente, monumental assistindo impávido ao céu a desabar. Foi assim também na terça-feira, num jogo em que nem a chuva acalmou os ânimos. “Estiveram cá no Turquia-Geórgia?”. A pergunta de Seyhan Duzen, apresentadora da beIN Sports turca, tem ela própria uma resposta. As memórias responderão melhor do que uma explicação em segunda mão, isso é certo. Explicamos que estávamos também em pelo pré-jogo, mas que fomos recebendo as imagens e as mensagens de um ambiente louco em Dortmund, com jogo a condizer.

Este sábado, Portugal vai jogar em casa da Turquia, não estando na Turquia. “Há 1,9 milhões de cidadãos turcos a viver na Europa e, desses, 1,3 milhões moram na Alemanha. E falo apenas dos que têm nacionalidade. Se juntarmos os cidadãos alemães de origem turca, são mais de três milhões”, continua o contexto de Duzen. Na terça-feira, Dortmund foi uma “Little Istambul”, como lhe chamou outro jornalista, e sábado não será diferente. Os adeptos portugueses serão uma minoria, uma pequenina minoria, perante a onda turca que vai engolir a cidade.

Rafael Leão diz que a equipa “já se preparou” para o ambiente adverso, lembrando o jogo com a Chéquia. Mas aí, a bem da verdade, o estádio estava praticamente dividido e os adeptos checos não foram exatamente os mais exuberantes. Ainda assim, o avançado do AC Milan garante que o barulho que virá das bancadas “não será um problema” e que dentro do balneário português todos estão “mentalmente preparados, focados”, até porque a equipa tem noção que este é um jogo decisivo para garantir o 1.º lugar do grupo. Kerem Akturkoglu, jogador do Galatasaray, lembra a paixão dos turcos pelo futebol, e que têm sentido a cada passo, num passeio na rua, numa visita às redes sociais, o apoio maciço dos seus concidadãos.

Roberto Martinez a falar no Signal Iduna Park

Christof Koepsel – UEFA

Seyhan Duzen lembra-nos que, para lá dos turcos que moram na Alemanha, muitos também viajaram da Turquia para apoiar a seleção, que nunca bateu Portugal. Aliás, nunca marcou sequer um golo a Portugal em grandes competições. Conta-nos que percebeu que a Turquia está mesmo em casa durante o Espanha-Itália de quinta-feira, curiosamente. “Foi um jogo louco, muito bom de ver, entre duas grandes equipas. Mas o ambiente no estádio era tão silencioso… Aí percebi que íamos mesmo jogar em casa”, diz. Concordamos que não terá sido o ambiente mais tresloucado que já vimos, mas se for essa a comparação disponível, sim, no sábado será um inferno para Portugal. “Ainda mais neste estádio. Os nossos adeptos levaram o apoio para outro nível”, avisa a jornalista.

As fragilidades que serão oportunidades para Portugal

As circunstâncias podem pesar. Para os jogadores turcos, há a vontade de passar à fase a eliminar, mas não haverá também uma responsabilidade perante os seus adeptos que se pode tornar um peso. Duzen não acredita que isso esteja na cabeça dos jogadores e que o apoio que sentem tem “elevado” a equipa: “Ainda há dois dias um dos nossos defesas dizia que quando entraram aqui em campo sentiram tudo: as palmas, o apoio. E que isso tem sido muito motivador. Eles são os eleitos… mais do que responsabilidade, é um fator de grande motivação”.

Só que a motivação, por si, “não ganha jogos” e Portugal é uma equipa “muito experiente” que se “qualifica constantemente para as fases a eliminar”, algo que a Turquia não tem conseguido. E se é certo que o Turquia-Geórgia foi provavelmente o melhor jogo do Euro em matéria de emoção e futebol-show, Seyhan Duzen lembra que “houve problemas no jogo da Turquia” e que é “preciso melhorar na defesa”. Com “paixão” e um melhor desempenho defensivo, quem sabe. “Nunca batemos Portugal, mas há sempre uma primeira vez. Isto não é uma liga, é um Campeonato da Europa, em que tudo pode acontecer”, recorda.

Vincenzo Montella

Vincenzo Montella

Christof Koepsel – UEFA

Os espaços que a Turquia pode dar foram referidos por Rafael Leão, que está à espera de “melhor espectáculo” e de um duelo “mais bonito” aqui em Dortmund do que aquele que assistimos em Leipzig. A Turquia arrisca mais, dá-se mais ao jogo. E isso pode ajudar Portugal.

Do lado turco, fala-se muito em paciência, paciência, paciência. “A paixão aqui é chave, temos de manter a paixão, mas sem nos apressarmos”, sublinha Kerem Akturkoglu, que marcou o terceiro golo da Turquia no jogo com a Geórgia, lembrando que os turcos são uma “nação muito emotiva”, que quer “tudo para ontem”. E daí a necessidade da paciência, também referida por Vincenzo Montella, o antigo avançado italiano que chegou ao país que tem um pé na Europa e outro na Ásia para dar à equipa consistência defensiva. Um paradoxo, mas que, pela primeira vez em muitos anos para a seleção turca, poderá resultar. Ainda para mais jogando “em casa”.

Quem poderá ficar de fora é Arda Güler, o menino-prodígio turco, a primeira “super-estrela mundial”, diz Seyhan Duzen, que o país espera produzir. O miúdo, que brilhou frente à Geórgia, tem problemas físicos e só à hora do jogo saberemos se estará no onze.

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